Ano de Produção: 1978
Diretor: Richard Donner
Roteiristas: Mario Puzo, Leslie Newman, David Newman e Robert Benton
Atores Principais:
Christopher Reeve – Clark Kent/Superman
Margot Kidder – Lois Lane
Gene Hackman – Lex Luthor
Marlon Brando – Jor-El
Ned Beatty – Otis
Jackie Cooper – Perry White
Valerie Perrine – Eve Teschmacher
Glenn Ford – Jonathan Kent
Phyllis Thaxter – Ma Kent
Jeff East – Young Clark Kent
Marc McClure – Jimmy Olsen
Terence Stamp – General Zod
Sarah Douglas – Ursa
Jack O’Halloran - Non
“Superman” é o filme mais marcante da minha infância. Não importa quantas vezes passasse na televisão, eu estava lá para conferir de novo, e de novo, e de novo, com a mesma empolgação da primeira vez que o assisti. A película busca construir o mito do bem absoluto, do completo altruísmo e da mais pura inocência, personificado na figura alienígena do Super-Homem. Estamos diante do retrato de uma verdadeira teogonia.
A introdução se enquadra perfeitamente na definição do “espetacular”. O filme começa mostrando o ocaso do planeta Krypton, previsto por Jor-El (Brando), pai do Homem de Aço, e o subseqüente envio de Kal-El, ainda bêbê, à Terra. Tendo em vista que “Superman” foi realizado em 1978, há de se admirar o desenho de produção de Krypton. Todo branco, girando em torno de um sol vermelho como um gigante cristal, opaco e sólido, o planeta natal do Super-Homem é uma obra de arte em termos de cenário. E tem Marlon Brando. Mesmo lendo suas falas na fralda de seu “filho”, o ator complementa o cenário com sua presença régia e termina por prover a aura mitológica necessária ao registro do nascimento de um deus.
Quando aterrissa na Terra, após atravessar anos-luz de espaço sideral, o garoto Kal-El é acolhido pelos Kents, os quais assumem o papel de seus pais. Com dezoito anos e em luto pela perda de seu pai terráqueo, Clark Kent parte em direção ao pólo norte, atendendo a um chamado silencioso de um misterioso cristal verde que encontra enterrado no celeiro. Chegando a seu destino, Kent lança o cristal a milhas de distância no gelo e, assim, surge a Fortaleza da Solidão, sua casa Kryptoniana aqui na Terra. Lá, através de cristais, que funcionam como um grande banco de dados, ele tem a oportunidade de conversar com seu verdadeiro pai pela primeira vez. A partir daí, Clark Kent passa anos recebendo o restante de seu aprendizado para, então, após finalizado o seu último rito de passagem, ele sair de lá voando já adulto, completo, pronto para ser Super-Homem. É interessante notar que não fica muito claro como Superman conseguiu incorporar o bem absolutamente e rejeitar o mal em todas as suas formas e representações. Afinal, ele foi criado aqui na Terra, rodeado de humanos. A única conclusão é a de que sua natureza alienígena falou mais alto que o ambiente ao seu redor, especialmente depois de sua educação final na Fortaleza da Solidão. O Super-Homem não é um herói identificável, falho, vulnerável, como os deuses da mitologia grega. Ele está muito mais próximo da concepção atual de Deus – onipotente (força, velocidade e invulnerabilidade) e onisciente (visão raio-x e super-audição). Ele é na verdade uma figura de inspiração, um símbolo da bondade e da incorruptibilidade.
Características opostas às de seu arquirrival, Lex Luthor. O cara é feio, egocêntrico, cruel, megalomaníaco, mas, apesar de planejar a morte milhões de inocentes, não é um doente psicopata como o Coringa, por exemplo. Lex está longe de ser o anticristo. Ele é só uma caricatura humorística do mal. Suas cenas são sempre engraçadas, muito por conta de seus sidekicks, Otis e Srta. Teschmacher, os quais servem unicamente como alívio cômico. No entanto, é preciso dar mérito ao vilão, pois colocou o Super numa situação onde não era possível salvar Lois Lane. Depois de salvar New Jersey bloqueando uma represa, Super-Homem chega atrasado na Califórnia e encontra Lois morta, soterrada pelo deslizamento provocado por um míssil nuclear, cuja rota de colisão havia sido alterada por Luthor. Agindo literalmente como Deus, Superman faz a Terra girar ao contrário e volta o tempo a fim de poder salvar a mulher que ama. Até hoje, eu sou contrário a essa idéia, que quase estraga o filme. Mesmo sendo um filme de quadrinhos, fazer a Terra girar ao contrário voando em alta velocidade em sua órbita é absurdo, inverossímil e desnecessário. Se o Homem de Aço consegue voar próximo à velocidade da luz, como é que não dá tempo de parar os dois mísseis?
As demais cenas de ação, nas quais o herói utiliza seus poderes, já são suficientes para entreter e maravilhar o espectador. Super-Homem se coloca sobre trilhos rompidos para evitar que um trem venha a descarrilhar; perfura a crosta terrestre e acomoda placas tectônicas a fim de parar um terremoto; salva um bando de crianças num ônibus escolar na Golden Gate prestes a desabar; sustenta um avião sem uma de suas turbinas até o pouso seguro e, claro, há a cena clássica da primeira vez em que o Super entra em ação. Um helicóptero – Lois Lane é um de seus passageiros – perde o controle e fica pendurado no terraço de um arranha-céu. Lois Lane não consegue se segurar no cinto de segurança e entra em queda livre. Clark Kent está saindo do Planeta Diário, tranqüilo e contente. Demora comicamente a notar que sua donzela está em perigo. Quando ele a vê caindo, corre em direção a um lugar escondido, já abrindo a camisa e mostrando o S no peito, e voa em público pela primeira vez, para delírio da galera. Com Lois Lane em um de seus braços e o helicóptero em outro, Superman salva o dia e vira manchete instantaneamente.
É preciso ressaltar que todas essas cenas são incrivelmente bem feitas, especialmente porque foram filmadas há mais de trinta anos. Tenho certeza de que um espectador que assiste o filme pela primeira vez em 2011 ainda é capaz de curtir “Superman”, desde que seja dotado de uma mínima capacidade de relativizar a película em seu contexto na História do Cinema. Além disso, o impacto do filme é incrivelmente ampliado pela inesquecível trilha sonora de John Williams, talvez o seu melhor trabalho. A música se combina perfeitamente ao tema, pois realmente possui em essência uma característica épica, mitológica.
Como curiosidade, Nick Nolte estava cotado para ser o Homem de Aço, mas disse que só aceitaria o papel se Clark Kent/Super-Homem fosse escrito como um personagem literalmente esquizofrênico. E não é que eu concordo com Nick! Clark e Super são tão diferentes que poderiam ser as duas facetas de uma síndrome de dupla personalidade. Como Bill bem disse em “Kill Bill Volume 2”, Clark Kent é um alter ego criado pela imaginação do Super-Homem. “Super-Homem” é quem ele realmente é. Kent representa a perspectiva que o Super-Homem tem do Homem: fraco, desastrado, inseguro. É através dessa identidade artificialmente construída que Super-Homem se relaciona com a humanidade. Quem tem amigos e família é Clark Kent. É ele que se apaixona por Lois Lane. Superman não tem amigos ou namorada. Seus pais já morreram há muito tempo. Ele é uma divindade alienígena, invulnerável e distante do turbilhão de emoções humanas, as quais só a Clark é permitido experimentar. Christopher Reeve fez um trabalho sensacional com Clark Kent, a faceta humana do Super-Homem. Atrevo-me a dizer que é até possível acreditar que as pessoas no filme não percebem que Clark é o Superman de óculos. Reeve muda a voz, postura, corte de cabelo, o jeito de olhar, infantil e ingênuo, ou seja, tudo que o possibilita a criar empatia com os humanos.
Sua perda foi uma verdadeira lástima para todos nós que crescemos assistindo a todos os capítulos da tetralogia Superman várias e várias vezes. E olha que o III e IV são uma bosta total. Apenas a sua presença já valia o ingresso.
Menção: F
Link no imdb.
Legal, velho. A sacanagem é só que vc não curte o que eu acho uma das cenas mais bonitas da história do cinema. E não sou só eu, o Gilberto Gil fez "Super-Homem - A Canção" fascinado por essa cena:
ResponderExcluir"Quem sabe
O Super-Homem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher."
Muito bonita a homenagem ao Christopher Reeve no final.
Mauricera
Menção F para o seu comentário, Mauricera. Destruiu maravilhosamente a minha crítica geek, contra a inverossimilhança da cena. Calo-me e concedo o ponto totalmente a você.
ResponderExcluirEspero que continue comentando!
cristopher reeve era meu príncipe encantado quando eu era menina. ele era tão bonito, mas tão bonito, que às vezes não parecia real. era um boneco de cera hahaha
ResponderExcluirLembra-se do clássico "Em algum lugar do passado"?
ResponderExcluirhahaha eu chorei muito nesse filme
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