sexta-feira, 30 de setembro de 2011

PERFIL - HOLLY HUNTER

10 – E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ (O BROTHER, WHERE ART THOU?, 2000)

Holly Hunter faz uma quase ponta como Penélope (aquela do Ulisses), mas fiz questão de listar essa obra prima maravilhosa dos irmãos Coen. Seu desempenho não tem nada de especial; tenho certeza de que ela somente aceitou papel tão pequeno por conta de sua amizade com os diretores.

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9 – A FIRMA (THE FIRM, 1993)

Mais um papel menor dessa fantástica atriz. No entanto, surpreendentemente, ela recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Ela mesma declarou que esse trabalho foi relativamente fácil. Sotaque sulista carregado, personalidade forte, poucas falas, crise emocional... um prato cheia para Hunter, que em 93, já tinha muita experiência com esse tipo de atuação. Ela seduz, faz rir, sofre a perda do homem que amava, ajuda Tom Cruise a sair de uma enrascada com a Máfia e se apaixona novamente no final. De fato, o filme fica mais vivo e colorido quando ela está presente.

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8 – AOS TREZE (THIRTEEN, 2003)

Hunter retrata a mãe da protagonista: uma menina de treze anos, cujo gigantesco conflito de identidade e péssima influência de uma nova amiga causam a sua completa decadência. Da filha perfeita, bem comportada e boa aluna, a garota se entrega à rebeldia sem causa, regada a drogas, anorexia e shoplifting. Holly parte o coração do espectador como a mãe que se vê impotente diante da tragédia de ver sua filha pré-adolescente cair no submundo.

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7 – ARIZONA NUNCA MAIS (RAISING ARIZONA, 1987)

Seu primeiro papel de sucesso. Aqui, Holly Hunter tem sua veia cômica aproveitada ao máximo. Esposa de um vigarista incorrigível (Nicolas Cage no auge da forma, ainda com cabelo), tudo o que ela deseja é ter um filho. Quando descobre que é estéril, se desespera a ponto de cogitar e, eventualmente, concretizar a insana idéia de abduzir um dos cinco quíntuplos de um ricaço da cidade, dono de uma loja de materiais de construção. É nesse filme que ela mostra as características únicas de seu timing cômico: nunca alguém foi tão engraçado quando chora ou quando fica com raiva. Confesso que sempre caio na gargalhada quando Holly começa o chorar profusamente. Sabe aquele pranto barulhento, que faz todo o corpo tremer em pequenas convulsões? Ela é mestre nisso. Ah, esqueci. Esse é outro filme fantástico dos irmãos Coen.

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6 – COPYCAT – A VIDA IMITA A MORTE (COPYCAT, 1995)

Filme altamente divertido e bem atuado. Holly Hunter divide a tela com a rainha do suspense moderno, Sigourney Weaver. Nem preciso dizer que as duas carregam o filme nas costas. Aliás, se o casting não fosse tão poderoso, “Copycat” teria caído certamente na categoria filme B e estaria empoeirado na prateleira da locadora, totalmente esquecido. O mais importante para nós, no entanto, é que Hunter tem a chance de nos convencer como policial durona e corajosa, capaz de prender um perigoso serial killer, apesar de sua estatura diminuta e corpinho mignon. Obviamente, ela é bem sucedida na tarefa.

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5 – ALÉM DA ETERNIDADE (ALWAYS, 1989)

Holly como par romântico de Richard Dreyfuss, num filme relativamente fracassado de Spielberg. Hunter está no seu território mais confortável como atriz: seu personagem, por falta de palavra melhor, é uma spitfire – super temperamental, porém doce e sensível. Holly Hunter nunca se encaixou em padrões de beleza e, mesmo assim, se destacou em papéis de romantic leading lady, fato raro em Hollywood. Prova de seu grande talento, especialmente quando interpreta mulheres fortes e passionais. Uma cena bonita desse filme acontece quando, ao som de "Smoke Gets in your Eyes", ela dança com Dreyfuss enquanto todos a admiram, pois, pela primeira vez, está vestida de “roupas de menina” - um vestido branco a la anos 80. E ainda tem uma cena com o hilário choro convulsivo.

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4 – CRASH – ESTRANHOS PRAZERES (CRASH, 1996)

Em “Crash”, Holly Hunter mostra sua faceta mais versátil. A atriz interpreta uma mulher viciada em sofrer acidentes de carro para transar. É isso mesmo: sexo pós-acidente automobilístico. Esse é um daqueles filmes que provoca reações extremas da platéia. Muita gente saiu da sala de projeção antes do filme terminar. Baseado no romance homônimo de J.G. Ballard, a película serviu para Hunter quebrar o typecasting que tanto a incomodava – a já mencionada “Southern Spitfire”. No banco de trás do carro, ela manda ver no James Spader com gosto e mostra que seu compromisso com a arte não tem obedece a limites ditados por uma falsa moral. Além do mais, personagens obcecados por aquilo que os excita sexualmente são sempre interessantes de se ver. Dirigido pelo magnífico David Cronenberg.

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3 – VITÓRIA A QUALQUER PREÇO (THE POSITIVELY TRUE ADVENTURES OF THE ALLEGED TEXAS CHEERLEADER-MURDERING MOM, 1993)

Holly interpreta uma mãe psicopata. A maluca fica tão obcecada com o sucesso da filha como cheerleader, que começa a assassinar aqueles que se põem em seu caminho. Baseado numa história real. Preciso dizer mais?

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2 – NOS BASTIDORES DA NOTÍCIA (BROADCAST NEWS, 1987)

Excelente comédia romântica. Hunter faz uma inteligente e hiperativa produtora de telejornais de uma grande rede de televisão. Sua vida amorosa está dividida entre William Hurt, que se define pelos 3 Bs: Burrinho, Bonitão e Bem sucedido, e o FISPPSF Albert Brooks – Feinho, Inteligente e Sempre Preterido Por Ser Feinho. Roteiro ágil e ótimas atuações – Jack Nicholson faz uma ponta fantástica – fazem desse filme um interessante retrato do jornalismo nos anos 80. E mesmo para quem não se interessa muito pela área, a película também satisfaz como sessão da tarde. Como brinde, há várias cenas engraçadíssimas do famoso choro.

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1 – O PIANO (THE PIANO, 1993)

A pianista muda, que vive um caso de amor adúltero com um Harvey Keitel selvagem e cheio de tatuagens Maori, foi o papel que lhe colocou no hall das maiores atrizes de todos os tempos. Filmaço da diretora Jane Campion, pois nos deleita com atuações espetaculares, diálogos curtos e precisos, uma trilha sonora fantástica e imagens belíssimas da Nova Zelândia. Holly Hunter transmite ao espectador uma imensa gama de emoções sem dizer uma só palavra. Ela não precisou de dublê para tocar piano e tampouco se intimidou pelas inesquecíveis cenas de sexo com Keitel. Tais cenas tornaram-se clássicas por conta de sua beleza estética e da perspectiva adulta e provocativa adotada pelo roteiro. A evolução do relacionamento entre ambos é um show a parte. Do ódio ao desejo, ela passa pela paixão incontrolável e chega finalmente ao amor incondicional. E ainda tem o lindíssimo e trágico desfecho. A grande atriz nos marcou para sempre com a sua Ada. Primeiro filme de Anna Paquin, o qual lhe valeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante aos onze anos. Hunter logicamente ganhou o seu, assim como a diretora, que ganhou pelo roteiro. O filme ainda foi laureado pela Palma de Ouro em Cannes e mais uma série de prêmios mundo afora. Absolutamente imperdível.

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (THE MAN WHO SHOT LIBERTY VALANCE)

Ano de Produção: 1962
Diretor: John Ford
Roteiristas: James Warner Bellah e Willis Goldback

Atores Principais:

James Stewart – Ranson Stoddard
John Wayne – Tom Doniphon
Vera Miles – Hallie Stoddard
Lee Marvin – Liberty Valance
Edmond O’Brien – Dutton Peabody
Andy Devine – Marshal Appleyard
John Carradine – Major Cassius Starbuckle
Lee Van Cleef – Reese
Woody Strode – Pompey

Faroeste conceitual. Um duelo apenas, nas duas horas de sua duração. Em poucas palavras, o filme é sobre o que fazer com um bully. A primeira opção, representada pelo bom moço James Stewart, é utilizar o poder político do Estado. Prendam o bully e julgue-o perante seus pares. A segunda, personificada na figura de John Wayne, um anti-herói cético e amargurado pelas vicissitudes da vida, é o caminho da arma de fogo, o único instrumento de poder que um bully respeita. Matem o bully e ponto final.

James Stewart retrata um personagem que marca o começo do fim do western clássico. Sua grande missão no filme é provar que o progresso e o bem-estar geral advêm do cumprimento estrito da Lei. Uma sociedade torna-se civilizada quando se abstém de fazer justiça com as próprias mãos e delega esse poder ao Estado. John Wayne põe Stewart no seu lugar – naquela cidade, naquele momento, a justiça está impotente. O poder da força bruta não está nas mãos da polícia, mas em posse daqueles que atiram primeiro, ou seja, Liberty Valance e sua gangue. O povo está à mercê dos grandes fazendeiros, donos da maior parte do território – quase como um Coronelismo – e a Lei se materializa na figura caricata do xerife covarde e ineficiente, retratado por Andy Devine.

Refletindo bem a mentalidade americana, o argumento de John Wayne e sua shotgun prevalecem no final, mas não sem crítica. Ransom Stoddard (Stewart) cede à tentação do caminho mais fácil e, aparentemente, mata Valance (Lee Marvin) num clássico duelo de pistolas. Anos após o fim do caos instaurado pelo vilão, o desenvolvimento e a civilização eventualmente chegam à pequena cidade de Shinbone, porém isto só foi possível porque o povo, inspirado pela morte de Liberty Valance, transformou Stoddard em seu novo líder político e o levou ao Capitólio. A revelação no final é fantástica: sabendo que um advogado idealista, cuja única experiência com armas se resumia a alguns treinos com latas de tinta como alvo, não tinha qualquer chance de vencer Valance num duelo, Tom Doniphon (Wayne) intervém secretamente. Oculto pelas sombras de uma rua estreita, é ele quem dá o tiro de misericórdia e acaba salvando a vida de Stoddard. Ninguém percebe e o advogado leva a fama de justiceiro. Torna-se governador do condado, depois Senador e salva a cidade da desordem. Como bem diz a mulher de Stoddard no final: “Hoje Shinbone é um jardim perto do caos que era antes.” Ah, claro. Ele também ganha a garota. Doniphon permite o triunfo a seu colega pelo bem maior e termina o filme sozinho e bêbado. Nem preciso dizer que o seu fim simboliza também o fim do faroeste à moda antiga.

Algumas cenas são sensacionais.
Peabody, a caricatura do bêbado da cidade, recita Henry V antes de ser espancado por Valance; John Wayne chama alguém de pilgrim pela primeira vez;
intimado a pegar o bife do chão por Valance, Stewart, mesmo estando furioso, acata a ordem do bully a fim de evitar que Valance e Doniphon se matem a tiros... todas cenas memoráveis. Alguns quotes também se tornaram clássicos:
“This is the West. When the legend becomes fact, print the legend.”;
“I’m staying and I ain’t buying a gun!”;
“Nothing's too good for the man who shot Liberty Valance.”;
“Liberty Valance... and his myrmidons!”;
“I know those law books mean a lot to you, but not out here. Out here a man settles his own problems.”

Outro ponto excelente do filme é o elenco. John Wayne, James Stewart e Lee Marvin ficaram famosos não só pela competência, mas também por suas vozes fantásticas e ritmos de fala inconfundíveis. Estamos numa época onde o talento do ator residia em grande parte na sua dicção e expressão facial, certamente uma forte influência do teatro. Talvez a partir daí explicam-se as atuações caricatas do elenco secundário. Além disso, especialmente quando se trata de diretores old school, como John Ford, o casting possuía critérios muito diferentes dos de hoje. Por exemplo, a idade do personagem não precisava, nem de longe, corresponder a do ator. Esse filme leva isso ao extremo. James Stewart, 53 anos na época, interpreta um advogado recém saído da faculdade. O personagem de Wayne, 54, deveria ser jovem como o de Stewart, inclusive porque, ainda solteiro e sem filhos, rivaliza Stoddard, pois também tinha a intenção de se casar com a mocinha, Hallie. O mais esquisito é O.Z. Whitehead, 50 anos, com rugas nos olhos perfeitamente visíveis, desempenhando o papel de um adolescente chupando pirulito.

A nota final é um pouco triste. Mesmo dando o necessário desconto por conta do contexto histórico, o filme ainda possui traços racistas. Afinal, “O Homem que matou o Facínora” foi filmado em 1962, época em que o movimento de liberdades civis já fervilhava nos Estados Unidos. Pompey, o único personagem negro da película, é praticamente o escravo de Wayne. Os dois se dão bem, mas Pompey é sempre tratado com superioridade, como se precisasse de um homem branco para lhe dizer o que fazer e como se comportar. Duas falas, uma de Wayne e uma de Stewart, respectivamente, ilustram bem esse fato: “My boy, Pompey; kitchen door! (Valance looks and sees Pompey at the door holding a rifle)”. Doniphon se refere a seu “assistente” como boy, apesar de terem mais ou menos a mesma idade. Hoje em dia, os negros americanos, ou melhor, os African-Americans, se ofendem profundamente se alguém não-negro os chama de boy. Stewart, por sua vez, no final do filme, oferece alguns trocados a Pompey, pois seu “senhor”, John Wayne, tinha morrido, e solta a seguinte pérola: “It’s pork chop money”. Pompey olha para ele, agradecido. Eu teria jogado o dinheiro na cara dele. Uma verdadeira humilhação. Concluindo, certamente não foi coincidência: durante uma aula de História americana, ministrada por Stoddard ao povo sem instrução da cidade, é pedido a Pompey que recite de memória um trecho da Declaração de Independência. Ele esquece a seguinte parte: "All men are created equal." Com um sorriso de orgulho estampado no rosto, Stoddard e a turma professam em voz alta o referido trecho e, num nível subliminar, deixam bem claro a Pompey, "não somos racistas, somos todos iguais, mas você tem que saber o seu lugar, boy."

Mesmo assim, o filme não pode ser considerado ruim sem que se leve o background daqueles que o fizeram em consideração. Embora seja parcialmente datado, por conta dos motivos acima mencionados, “The Man who shot Liberty Valance” se mantém como um clássico cerebral do faroeste, pois discute temas que serão sempre atuais, tais como democracia, justiça, formas de exercício de poder e, claro, como combater facínoras.

Menção: O

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

INVERNO DE SANGUE EM VENEZA (DON’T LOOK NOW)

Ano de Produção: 1973
Diretor: Nicolas Roeg
Roteiristas: Alan Scott e Chris Bryant

Atores Principais:

Donald Sutherland – John Baxter
Julie Christie – Laura Baxter
Hilary Mason – Heather
Clelia Matania – Wendy
Massimo Serrato – Bishop Barbarrigo
Renato Scarpa – Inspector Longhi
Adelina Poerio – Dwarf

Sinceramente não entendi por que esse filme é considerado um dos maiores clássicos do suspense moderno. Talvez porque estivesse esperando muito dele. Há, de fato, uma atmosfera surrealista, que preenche toda a película, mas não consegui detectar os elementos que geraram as críticas fervorosamente positivas a respeito de “Inverno de Sangue em Veneza”. Não fiquei apreensivo ou com medo. E olha que qualquer filme de terror, com o mínimo de qualidade, me tira o sono. Como eu tinha lido que o seu desfecho ficou famoso por ter deixado as platéias apavoradas, estava só muito curioso para saber a grande revelação final, cujo impacto não fez nem cócegas nas minhas expectativas.

No entanto, dois pontos fortíssimos do filme devem ser salientados. O primeiro é a legendária cena de sexo do casal protagonista. Donald Sutherland e Julie Christie impressionam por terem projetado intimidade e afeto de maneira tão crível, especialmente quando se sabe que Sutherland e Christie tinham acabado de se conhecer no set. Dizem que ela estava apavorada por ter sido literalmente a primeira cena de ambos. Porém, a cena serve para estabelecer credibilidade ao casal como casal. É, na verdade, um mecanismo de desenvolvimento dos personagens. A cena é lindíssima, por sinal. Estamos falando de algo relativamente raro no cinema: uma cena de sexo não gratuita e não vulgar, protagonizada por atores de aparência “normal”. Julie Christie é linda, mas não caberia perfeitamente nos padrões de hoje.

O segundo é a fotografia de Nicolas Roeg. Veneza é um cenário muito utilizado em romances e filmes de época por conta de sua beleza arquitetônica singular e sua luminosidade incrível. A maneira pela qual a luz do sol reflete em suas águas é sensacional. Nesse filme, Veneza não é nada disso. Aqui a cidade é um labirinto sombrio e abandonado, quase um cenário apocalíptico, o que conta consideravelmente para a construção bem sucedida da atmosfera lúgubre e surreal da película. O uso da cor vermelha como contraste aos tons de branco, cinza, bege e marrom dos prédios e figurino dos personagens centrais, já amplamente discutida na literatura de crítica de cinema, também acrescenta ao suspense como um elemento de tragédia iminente. É interessante notar que o vermelho anuncia as duas mortes no filme, como se fosse o causador destas.

Reconhecidos tais pontos, o filme surpreendentemente não me “pegou”. “O Bebê de Rosemary” funciona também muito na base da sutileza psicológica e da sugestão de que algo maligno e inevitável assediará e torturará os personagens até conseguir o que deseja, mas, de alguma forma, o sofrimento pelo qual passa Rosemary me incomodou (no bom sentido) muito mais do que a abstrata ameaça de perigo que ronda o casal Baxter. A sua dor, em razão da perda da filha pequena no início do filme, é mais poética, mais onírica e, por isso, menos angustiante, principalmente porque a filha, através de uma personagem médium, entra em contato com os pais do além para protegê-los. O aspecto sobrenatural do filme é positivo, angelical. Em “O Bebê de Rosemary” esse aspecto é exatamente o contrário: negativo, demoníaco.

É aí que entra a minha decepção. Não há nada de sobrenatural assediando os protagonistas. A revelação final apresenta apenas uma coincidência trágica, causada por algo real e concreto. Para mim, isso foi um anticlímax. Inclusive, quando descobrimos de onde vem o “Mal” no filme, a sensação é de traição, pois a sua materialização se dá numa forma da qual conhecemos muito pouco. O verdadeiro vilão da história não tem desenvolvimento nenhum; nem sequer uma motivação para seus crimes nos é mostrada.

Em conversas com meu grande amigo, Igor, me foi apontada um característica muito interessante a respeito dos filmes de horror, o qual está presente nesse também: o herói sempre morre. Aliás, pode-se dizer que não há heróis no gênero horror, apenas vítimas. E ninguém melhor para desempenhar o papel de vítima da morte mais imprevisível do que o personagem mais forte e, geralmente, mais cético do filme, o qual se encontra impotente, tentando fugir de uma situação inescapável.

Enfim, esse é um daqueles filmes que reconheço a sua alta qualidade técnica e artística, mas que não me agrada num nível puramente subjetivo, tal como a maioria dos filmes de arte. David Lynch, Wim Wenders, Werner Herzog dos anos 70 e 80, Godard, Antonioni são exemplos de diretores de filmes que não podem ser classificados como ruins, mas, com o perdão dos cinéfilos intelectuais, a verdade é que eu não os suporto.

Menção: A

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MINIREVIEW - LARRY CROWNE

Year: 2011
Director: Tom Hanks
Screenwriters: Tom Hanks and Nia Vardalos

Main Cast:

Tom Hanks - Larry Crowne
Julia Roberts - Mercedes Tainot
Gugu Mbatha-Raw - Talia
Cedric the Entertainer - Lamar
Taraji P. Henson - B'Ella
Wilmer Valderrama - Dell Gordo
Pam Grier - Frances
Rami Malek - Steve Dibiasi
Maria Canals-Barrera - Lala
George Takei - Dr. Matsutani
Bryan Cranston - Dean Tainot

Ethnically Diverse Cast

Characters so kind and good-spirited that can't possibly exist in real life


Sweet and Light as a Thousand-Leaves


Romantic Comedy without the "Conflict-run to the airpot-make-up-be together forever" formula


Julia Roberts, who is a beautiful intelligent college professor, falls in love with


Tom Hanks, a middle aged man who was fired, goes to college and flips burgers for a living


George Takei has an incredibly deep booming voice. Didn't know that.



Grade: M

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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

BONUS – LISTAS DE TOP TEN POR GÊNERO, SUBGÊNERO E GÊNERO INVENTADO

As listas não estão em ordem de preferência. Aviso aos leitores que comentários me lembrando as injustiças são muito bem vindos. As listas serão ajustadas constantemente. Conto com a ajuda de vocês!

Ação
  • A Origem – 2010
  • Aliens, o Resgate – 1986
  • Matrix – 1999
  • Duro de Matar – 1988
  • Ronin – 1998
  • O Exterminador do Futuro 2 – 1991
  • Indiana Jones e a Última Cruzada – 1989
  • Velocidade Máxima – 1994
  • O Ultimato Bourne – 2007
  • Cassino Royale – 2006

Comédia
  • Quanto mais Quente Melhor – 1959
  • Tootsie – 1982
  • O Dorminhoco – 1973
  • A Gaiola das Loucas – 1996
  • Quatro Casamentos e um Funeral – 1994
  • Em Busca do Cálice Sagrado – 1975
  • Feitiço do Tempo – 1993
  • O Grande Lebowski – 1998
  • Um Peixe Chamado Wanda – 1988
  • Dr. Fantástico – 1964

Policial
  • Seven – 1995
  • LA Confidential – 1997
  • O Silêncio dos Inocentes – 1991
  • Zodíaco – 2007
  • Os Infiltrados – 2006
  • Chinatown – 1974
  • Fogo Contra Fogo – 1995
  • Fargo – 1996
  • Tropa de Elite 2 – 2010
  • Dirty Harry – 1971

Drama
  • Um Estranho no Ninho – 1975
  • Taxi Driver – 1976
  • As Horas – 2002
  • Beleza Americana – 1999
  • A Vida dos Outros – 2006
  • Dogville – 2003
  • A Sociedade dos Poetas Mortos – 1989
  • Revolutionary Road – 2008
  • O Pescador de Ilusões – 1991
  • Em Nome do Pai – 1993

Horror
  • O Exorcista – 1973
  • O Bebê de Rosemary – 1968
  • Psicose – 1960
  • A Profecia – 1976
  • Alien, o Oitavo Passageiro – 1979
  • A Mosca – 1986
  • Atividade Paranormal – 2007
  • O Iluminado – 1980
  • Os Outros – 2001
  • Repulsa ao Sexo – 1965

Faroeste
  • Tombstone – 1993
  • Bravura Indômita – 2010
  • Três Homens em Conflito – 1966
  • Os Imperdoáveis – 1992
  • Butch Cassidy – 1969
  • Matar ou Morrer – 1952
  • Meu Ódio será sua Herança – 1969
  • O Homem que matou o Facínora – 1962
  • Os Indomáveis – 2007
  • O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford – 2007

Animação
  • Procurando Nemo – 2003
  • Up – 2009
  • A Viagem de Chihiro – 2001
  • Wall-E – 2008
  • Monstros S.A. – 2001
  • Shrek – 2001
  • Akira – 1988
  • Fantasia – 1940
  • O Mágico – 2010
  • Coraline – 2009

Biografia
  • Amadeus – 1984
  • Gandhi – 1982
  • Touro Indomável – 1980
  • Ali – 2001
  • Ray – 2004
  • O Escafandro e a Borboleta – 2007
  • O Povo contra Larry Flynt – 1996
  • Milk – 2008
  • O Homem Elefante – 1980
  • Meu Pé Esquerdo – 1989

Guerra
  • Além da Linha Vermelha – 1998
  • A Lista de Schindler – 1993
  • Apocalypse Now – 1979
  • O Franco Atirador – 1978
  • Nascido para Matar – 1987
  • O Resgate do Soldado Ryan – 1998
  • Cartas de Iwo Jima – 2006
  • O Sobrevivente – 2006
  • Coração Valente – 1995
  • Macbeth – 1971

Romance
  • Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças – 2004
  • Asas do Amor – 1997
  • O Piano – 1993
  • Manhattan – 1979
  • A Testemunha – 1985
  • Antes do Pôr-do-Sol – 2004
  • As Pontes de Madison – 1995
  • Brokeback Mountain – 2005
  • Fim de Caso – 1999
  • Despedida em Las Vegas – 1995

Suspense
  • Os Suspeitos – 1995
  • Um Corpo que cai – 1958
  • Pacto Sinistro – 1951
  • Tubarão – 1975
  • Coração Satânico – 1987
  • Cabo do Medo – 1991
  • Inverno de Sangue em Veneza – 1973
  • O Salário do Medo – 1953
  • Festim Diabólico – 1948
  • O Sexto Sentido – 1999

Esporte
  • Rocky, O Lutador – 1976
  • Um Domingo Qualquer – 1999
  • Homens Brancos não sabem enterrar – 1992
  • Um Homem Fora de Série – 1984
  • Campo dos Sonhos – 1989
  • Menina de Ouro – 2004
  • Rudy – 1993
  • O Lutador – 2008
  • Pumping Iron – 1977
  • O Vencedor – 2010

Fantasia
  • Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei – 2003
  • O Mágico de Oz – 1939
  • Conan, o Bárbaro – 1982
  • Meia-Noite em Paris – 2011
  • King Kong – 2005
  • Harry Potter e a Ordem da Fênix – 2007
  • A História sem Fim – 1984
  • As Aventuras do Barão de Munchauser – 1988
  • Highlander – 1986
  • Labirinto – 1986

Documentário

  • Quando éramos Reis – 1996
  • A Corporação – 2003
  • Tiros em Columbine – 2002
  • Anvil! The Story of Anvil – 2008
  • Gimme Shelter – 1970
  • Lixo Extraordinário – 2010
  • Edifício Master – 2002
  • Super Size Me - A Dieta do Palhaço – 2004
  • Inside Job – 2010
  • Janela da Alma – 2001

Filmes de High School
  • Curtindo a Vida Adoidado – 1986
  • Mulher Nota Mil – 1985
  • The Breakfast Club – 1985
  • Namorada de Aluguel – 1987
  • Say Anything – 1989
  • Te pego lá fora – 1987
  • Teen Wolf – 1985
  • Rushmore – 1998
  • 10 coisas que eu odeio em você – 1999
  • Elefante – 2003

Filmes de Viagem no Tempo
  • Trilogia De Volta para o Futuro – 1985, 1989 e 1990
  • A Máquina do Tempo – 2002
  • Te amarei para sempre – 2009
  • O Som do Trovão – 2005
  • Tetralogia O Exterminador do Futuro – 1984, 1991, 2003 e 2009
  • Os Doze Macacos – 1995
  • Planeta dos Macacos – 1968
  • Os Visitantes – 1993
  • A Ressaca – 2010
  • Kate e Leopold – 2001

Filmes de Reviravolta
  • As Duas Faces de um Crime – 1996
  • Shutter Island – 2010
  • Clube da Luta – 1999
  • O Sexto Sentido – 1999
  • Planeta dos Macacos – 1968
  • Cubo – 1997
  • Os Outros – 2001
  • Os Suspeitos – 1995
  • Identidade – 2003
  • Traídos pelo Desejo – 1992

Filmes de Máfia
  • Os Bons Companheiros – 1990
  • Trilogia Poderoso Chefão – 1972, 1974, 1990
  • Sexy Beast – 2000
  • O Pagamento Final – 1993
  • Scarface – 1983
  • Os Intocáveis – 1987
  • Os Infiltrados – 2006
  • Cassino – 1995
  • Cidade de Deus – 2002
  • Gangster n°1 – 2000

Filmes onde o palhaço faz papel sério
  • Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças – 2004 (Jim Carrey)
  • JFK – 1991 (John Candy)
  • Little Miss Sunshine – 2006 (Steve Carell)
  • One Hour Photo – 2002 (Robin Williams)
  • Mais Estranho que a Ficção – 2006 (Will Ferrell)
  • Embriagado de Amor – 2002 (Adam Sandler)
  • Encontros e Desencontros – 2003 (Bill Murray)
  • Shopgirl – 2005 (Steve Martin)
  • Dreamgirls – 2006 (Eddie Murphy)
  • O Rei da Comédia – 1983 (Jerry Lewis)

Filmes com Boas Cenas de Sexo
  • Pecado Original – 2001
  • Conquista Sangrenta – 1985
  • O Leitor – 2008
  • A Última Ceia – 2001
  • Don't look now - 1973
  • Crash – Estranhos Prazeres – 1996
  • Ken Park – 2002
  • Ata-me - 1990
  • Os Sonhadores – 2003
  • Swimming Pool – 2003

Road Movies
  • Thelma e Louise – 1991
  • Transamerica – 2005
  • Little Miss Sunshine – 2006
  • Easy Rider – 1969
  • Na Natureza Selvagem – 2007
  • Diários de Motocicleta – 2004
  • O, Brother, Where Art Thou? – 2000
  • Antes Só do que Mal Acompanhado – 1987
  • Sideways – 2004
  • Debi e Lóide – 1994

Remakes bons (ou até melhores que os originais) by Felipe Sobreiro
  • The Crazies (remake to filme homônimo de 1973) – 2010
  • 3:10 to Yuma (remake do filme homônimo de 1957) – 2007
  • Invasion of the Body Snatchers (remake do filme homônimo de 1956) – 1978
  • The Departed (remake de Infernal Affairs – 2002) – 2006
  • Cape Fear (remake do filme homônimo de 1962) – 1991
  • Scarface (remake do filme homônimo de 1932) – 1983
  • For a Fistful of Dollars (remake de Yojimbo – 1961) – 1964
  • The Fly (remake do filme homônimo de 1958) – 1986
  • The Thing (remake de The Thing from another world – 1951) – 1982
  • Dawn of the Dead (remake do filme homônimo de 1978) – 2004

Adaptações literárias by Felipe Sobreiro
  • There will be blood (baseado em "Oil!" de Upton Sinclair) – 2007
  • LA Confidential (baseado no livro homônimo de James Ellroy) – 1997
  • Apocalypse Now (baseado em "Heart of Darkness" de Joseph Conrad) –1979
  • To Kill a Mockingbird (baseado no livro homônimo de Harper Lee) – 1962
  • American Psycho (baseado no livro homônimo de Bret Easton Ellis) – 2000
  • Cidade de Deus (baseado no livro homônimo de Paulo Lins) – 2002
  • The Road (baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy) – 2009
  • Blade Runner (baseado em "Do Androids Dream of Electric Sheep?" de Philip K. Dick) – 1982
  • A Clockwork Orange (baseado no livro homônimo de Anthony Burgess) – 1971
  • The Godfather (baseado no livro homônimo de Mario Puzo) – 1972

Filmes sobre vigilantes by Felipe Sobreiro
  • Taken – 2008
  • The Dark Knight – 2008
  • Death Wish – 1974
  • Man on Fire – 2004
  • Harry Brown – 2009
  • V for Vendetta – 2006
  • Get Carter – 1971
  • Falling Down – 1993
  • Dirty Harry – 1971
  • Taxi Driver – 1976

Filmes imperdivelmente ruins by Felipe Sobreiro
  • Deadfall – 1993
  • Hobo with a Shotgun – 2011
  • Friday the 13th Part VI: Jason Lives – 1986
  • Battlefield Earth – 2000
  • The Happening – 2008
  • Shark Attack 3: Megalodon – 2002
  • Plan 9 from Outer Space – 1959
  • The Wicker Man – 2006
  • Troll 2 – 1990
  • Glen or Glenda – 1953

BONUS - Os 25 Filmes mais Horrorosos dos Últimos 20 Anos
  1. Rocky V – 1990
  2. Highlander II – 1991
  3. North – 1994
  4. Waterworld – 1995
  5. Showgirls – 1995
  6. Striptease – 1996
  7. Velocidade Máxima 2 – 1997
  8. Titanic – 1997
  9. Batman e Robin – 1997
  10. The Avengers – 1998
  11. Wild Wild Wild West – 1999
  12. Star Wars Episode I: The Phantom Menace – 1999
  13. Pearl Harbour – 2001
  14. Freddy Got Fingered – 2001
  15. Destino Insólito – 2002
  16. As Aventuras de Pluto Nash – 2002
  17. As Panteras 2 – 2003
  18. Gigli – 2003
  19. Mulher-Gato – 2004
  20. A Dama na Água – 2006
  21. Norbit – 2007
  22. Fim dos Tempos – 2008
  23. Zohan – 2008
  24. Transformers 2 – 2009
  25. O Caçador de Recompensas – 2010
Obs: Não quis incluir os filmes abaixo para dar espaço a outros. Eles são tão horríveis que não merecem nem estar numa lista de piores filmes.
  • Date Movie – 2006
  • Deu a louca em Hollywood – 2007
  • Os Espartalhões – 2008
  • Super-Heróis - A Liga da Injustiça – 2008
  • Vampiros que se Mordam – 2010 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ANTES DO PÔR-DO-SOL (BEFORE SUNSET)

Ano de Produção: 2004
Diretor: Richard Linklater
Roteiristas: Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy

Atores Principais:

Ethan Hawke – Jesse
Julie Delpy – Celine

Um belo filme. Mesmo. Sem qualquer traço de sentimentalismo, nenhum vestígio de melodrama. Já vi “Antes do Amanhecer” e “Antes do Pôr-do-Sol” tantas vezes que me atrevo a dizer que conheço Jesse e Celine intimamente. A sinopse desta pequena obra de arte é simples: duas pessoas se reencontram nove anos depois da única noite que passaram juntos e conversam andando pelas ruas de Paris.

Na mesma onda de seu antecessor – a propósito, não recomendo esse filme sem ter assistido “Antes do Amanhecer” – o romance é altamente dialogado. Exatamente uma hora e dezessete minutos de conversa. Acho engraçado que muita gente torce o nariz para esse tipo de filme, mas adora ver malas e vagabas falando besteira 100% do tempo por meses em programas como “Big Brother”. Aqui, estamos longe do baixo nível do reality show. Além de tudo o que Jesse e Celine falam ser muito interessante, tanto no nível intelectual quanto no emocional, há também o que não é dito. Esse componente não expresso do diálogo representa uma camada extremamente importante na interação entre os personagens, pois marca a evolução do envolvimento romântico dos protagonistas.

No momento em que eles se reencontram, há naturalmente uma distância cautelosa entre eles. Jesse está na lendária livraria Shakespeare and Co. dando autógrafos para o lançamento de seu best-seller na França – exatamente sobre a noite que passou com Celine, andando pelas ruas de Viena. Celine está o observando à distância e Jesse discursa a respeito de seu próximo livro exaltadamente. No momento em que ele a percebe próximo a uma das estantes, seu abalo é notável. Quando consegue terminar a entrevista depois de muito gaguejar, Jesse respira fundo e vai até Celine. Apenas trocam oi e olá nervosamente. No começo da caminhada, eles imediatamente se perguntam se compareceram ao encontro marcado seis meses depois daquela noite em Viena. Celine não pôde ir porque sua avó tinha morrido no mesmo dia. Jesse confessa que estava lá, à sua espera. Esse embaraço inicial quebra o gelo de certa forma. Ela está derretida por ele ter cruzado o Atlântico para vê-la, apesar de ter sido obrigado a pedir dinheiro emprestado ao pai, e Jesse está aliviado pela justificativa inescapável do furo de Celine. A linguagem corporal ainda está tímida; Jesse é o único que, de vez em quando, toca-lhe o braço quando faz alguma brincadeira.

Um assunto bem atual no qual eles tocam com alguma profundidade é a dualidade experiência versus resultado. Uma fala específica do Ethan Hawke me chamou muito a atenção: “The fun is in the doing, not in getting what you want.” Complementa dizendo que, embora vivencie uma das maiores aspirações do Homem – sucesso profissional, casamento com uma mulher linda e um filho saudável – ele ainda não achou a felicidade. Tanto é que passou alguns meses num monastério, longe de toda a modernidade tecnológica e consumista. Celine conta que teve uma experiência semelhante quando viveu na Polônia comunista. Depois de duas semanas, não sentia mais falta de televisão ou de fazer compras, pois estava mais em contato consigo mesma. É interessante notar como nós temos a sensação de que vivemos num mundo falso, o qual parece que está sempre tentando nos “proteger” das experiências difíceis, porém significativas, da vida. Precisamos nos afastar dele para descobrir as nossas verdades e sentir a vida num nível mais profundo, além da superficialidade anestésica do consumo e do entretenimento. Uma verdade que ambos desvendaram é mencionada em certo momento: cumprir objetivos não traz felicidade. Quando se atinge uma meta, outra surge imediatamente. Desejos insatisfeitos estarão sempre presentes, por mais poder que você tenha para saciá-los. A busca por resultados, entremeada nas horas vagas pelo torpor trazido pelo prazer imediatista do shopping e do entretenimento, são o grande erro do estilo de vida moderno. As pessoas se esqueceram que as oportunidades de felicidade aparecem durante o processo de conquista e não na conquista em si.

Celine e Jesse fazem gradativamente a transição dos temas gerais – o meio ambiente também é um dos tópicos amplamente discutidos – em direção aos mais pessoais. O assunto “relacionamento” marca essa passagem. A falência do casamento de Jesse e a tepidez do envolvimento de Celine com seu namorado ausente trazem à tona e confirma o que ambos estavam pensando desde que se encontraram: a faísca ainda está lá. Jesse acaba confessando que escreveu seu livro como uma tentativa de encontrá-la. Celine, por sua vez, admite que sua vida amorosa virou de cabeça para baixo depois de ler seu romance. Em nenhum momento eles dizem isso, mas a verdade é que, após uma hora de conversa, eles estão novamente apaixonados um pelo outro, como se o tempo não tivesse passado. Não há necessidade de se dizer nada, o gestual nos conta tudo. São belíssimas as cenas em que Jesse e Celine, em momentos diferentes, enquanto o outro desabafa olhando pela janela do carro, hesitam em tocar-se carinhosamente, mas desistem na última hora. Outro exemplo do não dito se dá no magnífico desfecho do filme. A expressão facial de Jesse quando Celine lhe diz que ele vai perder seu vôo enquanto ela dança ao som de Nina Simone é suficiente para o espectador ter certeza de que ele não sairá daquele sofá nem sob ameaça. Ainda mais porque ela tinha acabado de cantar-lhe uma linda valsa, composta por ela, especialmente para ele.

Muito bonita essa idéia de invocação da presença do outro através da arte, como o aedo invocava a Musa antes de recitar a Ilíada. A arte como um grito de chamamento. Além disso, acho que a materialização de seus sentimentos em livro e música se configura como um dos motivos principais de sua continuidade por tanto tempo. Eles precisavam de algum instrumento para eternizar a memória daquela noite em Viena. Encontraram na arte.

O filme se passa obviamente antes do pôr-do-sol, durante o fim de tarde. A fotografia, portanto, é lindíssima, especialmente no que concerne à luz. Os atores, as ruas, as árvores, tudo está iluminado por uma cor dourada, cuja resplandecência provê ao filme uma qualidade onírica e idílica, apesar de se passar numa das maiores urbes do mundo. De fato, os personagens vivem uma dos nossos maiores sonhos – ter uma segunda chance de retomar uma paixão não consumada.

No entanto, a maior qualidade técnica da película é o seu roteiro, absolutamente sem costuras e artificialismos. A conversa acontece em tempo real, de maneira que o filme poderia ser facilmente um documentário. A gradação presente no diálogo, do menos para o mais íntimo, é perfeita. É impressionante como uma hora e dezessete minutos de filme foram suficientes para desenvolver personagens tão complexos e, por isso, autênticos. Na minha cabeça, Jesse e Celine são reais; existem independentemente de Ethan Hawke e Julie Delpy. Dentre todos na História do Cinema, eles são possivelmente os personagens com os quais eu mais gostaria de ter uma conversa. Sou fã deles.

Menção: F

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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

GIMME SHELTER

Ano de Produção: 1970
Diretores: Albert Maysles, David Maysles e Charlotte Zwerin

Estrelas Principais:

Mick Jagger
Keith Richards
Charlie Watts
Mick Taylor
Bill Wyman
Jefferson Airplane
The Flying Burrito Brothers
Tina Turner

“Gimme Shelter” é considerado o anti-Woodstock, o fim da era Flower Power. Para quem não sabe, este documentário mostra o show de graça dos Rolling Stones em Altamont Speedway, no norte da Califórnia. Trezentas mil pessoas compareceram. O palco era baixo e absolutamente colado na platéia. A única barreira entre a banda e o público era a segurança contratada: um grupo de Hell’s Angels, bêbados e armados com facas e tacos de sinuca. Pelo menos uma morte foi registrada: Meredith Hunter, 18 anos, provavelmente um aspirante a Pantera Negra. Ele saca uma arma bem às vistas dos Hell’s Angels, a poucos metros de distância do palco. Na confusão, um dos Angels mata o garoto a facadas.

O filme começa como um documentário de rock normal. Para quem não é muito fã dos Stones, como eu, é até chato no início, pois a câmera registra as músicas do início ao fim, sem cortes. Nos intervalos entre uma canção e outra, flash forward para o dia seguinte, quando a banda se encontra na sala de edição dos diretores desse filme. Charlie Watts está particularmente abalado, especialmente quando um dos Hell’s Angels está ao telefone dizendo que não se arrepende do que aconteceu. Ele declara que, além de o cara ter puxado uma pistola, quem mexe com a moto de um Angel, tem que estar preparado para enfrentar as conseqüências. Watts, após alguns minutos em silêncio, com a voz embargada por um choro preso na garganta, só consegue dizer “what a shame...” É a cena mais tocante do filme. Talvez tivesse sido mais impactante se transportada para o final, depois de mostrada a cena fatídica. Mick Jagger está pálido, com o olhar ao longe. Não consegue dizer nada. Provavelmente, ele não entende como conseguiu continuar tocando apesar de toda a pancadaria e morte.

O documentário segue com a apresentação de umas três ou quatro músicas dos Stones, um trecho fantástico de Tina Turner cantando maravilhosamente, fazendo sexo com o microfone, intercalados com cenas dos empresários e advogados planejando o concerto em cima da hora em razão da repentina necessidade de mudança do local. A partir daí, o filme muda de direção e passa focar no público chegando em Altamont, durante o dia. Essa é certamente a parte mais interessante da película. As milhares de pessoas presentes estão literalmente doidaças. Parece que filmaram a vida em outro planeta. Estamos em 1969, o auge do movimento hippie. Ácido, maconha, heroína, pílulas de todo tipo são comumente utilizadas por todos. Inclusive, uma cena curtinha mostra um cara anunciando LSD aos quatro ventos. Nunca tinha visto tanta gente reunida com o mesmo objetivo: get high, listen to music and have fun. Literalmente, TODOS tinham esse objetivo. Salvo engano, não sei de outra época na História na qual uma grande porção da humanidade se comportou de maneira tão hedonista. Era uma maneira ingênua de lutar contra a guerra do Vietnã: ao invés do dever e do auto-sacrifício pela pátria, a busca pela paz confundia-se com a busca do prazer acima de tudo.

Infelizmente, ao mesmo tempo em que os hippies eram atraentes para os que se identificavam e queriam fazer parte do movimento, a sua postura provocava uma injustificada agressividade naqueles que não curtiam os ideais do grupo, com especial destaque para os temíveis Hell’s Angels. Estes passam a maior parte do dia metendo a porrada na galera. Sinceramente não percebi ninguém do público querendo invadir o palco para causar problemas. Era visível que todo mundo só queria se divertir. Claro, os mais pirados (peladões e fritando de ácido) eram um pouco mais inconvenientes, mas não representavam ameaça alguma à segurança das bandas. O próprio vocalista do Jefferson Airplane, Martin Balin, levou pancada porque tentou proteger um casal da violência de um dos Angels.

A idéia por trás da contratação dos Hell’s Angels para fazer a segurança do show tinha inicialmente a finalidade de dispensar a polícia desse serviço, ou seja, realizar um concerto, uma grande festa na verdade, sem a figura da autoridade. A ambição dos Rolling Stones era recriar o mesmo clima de Woodstock, ocorrido seis meses antes. E, de fato, a câmera não pega um policial sequer. A força do Estado estava ausente. Teoricamente, é uma noção fantástica, perfeitamente adequada aos ideais pacifistas da contracultura. Inclusive, foi aplicada com sucesso na Inglaterra – os Stones usaram os Hell’s Angels ingleses como segurança em um show de graça em Londres e não houve maiores problemas. No entanto, na Califórnia, foi descoberto que os Angels contratados, em especial os protagonistas dos atos de violência contra o público, eram neófitos no grupo; nenhum dos líderes estava presente. Pergunto-me se teria feito alguma diferença. O que importa é que o tiro saiu pela culatra com força. Mick Jagger teve que interromper o show diversas vezes para pedir calma aos exaltados. Logo ele, o grande anarquista, bagunceiro, sempre em busca de satisfaction. Os Hell’s Angels não davam a mínima. Eu mesmo preferiria ter levado gás lacrimogêneo, cassetete e bala de borracha na cabeça a ser assassinado a facadas por um motoqueiro filho da puta.

1969 e 70 definem bem a frase “o sonho acabou”. Além da tragédia em Altamont, esse biênio terrível viu o fim dos Beatles; a morte de Janis Joplin, Jimi Hendrix e Brian Jones (membro fundador dos Stones); Nixon toma posse como presidente; a família Manson assassina Sharon Tate, mulher de Polanski; a Guerra do Vietnã ainda está a todo vapor, etc. Em suma, o hedonismo hiperbólico, lisérgico e inconseqüente dos hippies estava em sua fase terminal.

Voltando ao filme, trata-se de um documentário cujo formato incomum me deixou fascinado. Ao contrário dos documentários de hoje em dia, os quais são fortemente baseados em entrevistas e depoimentos, “Gimme Shelter” não apresenta nenhuma entrevista planejada para o filme. Há somente uma cena, curta, que mostra Mick Jagger dando uma entrevista coletiva, na qual apenas divulga o show em Altamont. As cenas de bastidores não revelam muita coisa, talvez pela própria reserva dos Stones em razão da câmera presente. Os diálogos são parcos. Não há grandes discussões a respeito do comportamento brutal dos Angels e da morte de Meredith Hunter. Há simplesmente o registro imparcial dos acontecimentos. Os diretores operavam a câmera, pronto. Faziam cinéma vérité exatamente como um verdadeiro reality show deveria ser, sem planos, sem pauta, apenas bem editado. É por isso que o filme fica tão interessante quando o foco está no público. Por conta da quantidade generosa de tempo dedicado a eles, é possível se transportar para além da tela e se imaginar lá, no meio da galera fumando um, tomando ácido e praticando amor livre. Claro, bem longe do palco e da segurança.

Notas finais: 1) George Lucas operou uma das câmeras durante as filmagens, mas, infelizmente, esta quebrou logo no início dos trabalhos. A edição final de “Gimme Shelter” não contém nada do pouco que Lucas filmou. 2) Meredith Hunter não foi esfaqueado enquanto Jagger cantava “Sympathy for the Devil”. A morte aconteceu logo no início da próxima, “Under my Thumb”. Mesmo assim, por conta de sua subseqüente aura negativa de azar, os Rolling Stones ficaram seis anos sem tocar “Sympathy”.

Menção: A

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ROSEMARY'S BABY

Year: 1968
Director: Roman Polanski
Screenwriter: Roman Polanski

Main Cast:

Mia Farrow – Rosemary Woodhouse
John Cassavetes – Guy Woodhouse
Ruth Gordon – Minnie Castevet
Sidney Blackmer – Roman Castevet
Maurice Evans – Edward “Hutch” Hutchins
Ralph Bellamy – Dr. Abe Sapirstein
Victoria Vetri (as Angela Dorian) – Terry Gionoffrio
Patsy Kelly – Laura-Louise
Charles Grodin – Dr. C.C. Hill


There’s this girl; she’s happily married to a struggling actor.
They find a new apartment in the Bramford Building.
They make friends with the neighbors, a nice couple of old geezers.
She wants a baby.

A rival actor goes blind. Her husband replaces him.
One night, Rosemary and Guy are having a date at home.
Her neighbor knocks on the door and offers chocolate “mouse” for dessert.
She doesn’t like the “mouse”, but Guy insists that she eat it.
She feels dizzy and falls asleep.
She has a terrible nightmare.

When she wakes up, she notices her back has a few scratches.
Rosemary Woodhouse: I dreamed someone was raping me. I think it was someone inhuman.
Guy Woodhouse: Thanks a lot.
Rosemary Woodhouse: You... you had me while I was out?
Guy Woodhouse: It was kinda fun in a necrophile sort of way.

Rosemary gets pregnant.
She starts having constant pain in her belly.
Her doctor says she must do nothing. No painkillers.
One day it will stop.
Months go by and the pain is still there. She loses weight. She feels weak.
She looks cadaveric.

Finally, she concludes that her doctor is a sadistic nut.
Guy Woodhouse: (on Rosemary's decision to switch doctors) You know what Dr. Hill is? He's a Charlie Nobody, that's who he is!
Rosemary Woodhouse: I'm tired of hearing about how great Dr. Sapirstein is!
Guy Woodhouse: Well, I won't let you do it Ro.
Rosemary Woodhouse: Why not?
Guy Woodhouse: Well, because... because it wouldn't be fair to Sapirstein.
Rosemary Woodhouse: Not fair to Sap... - what do you mean? What about what's fair to me?

All of a sudden, the pain goes away.
The baby is kicking.
Rosemary puts Guy’s hand on her belly so that he can feel it alive.
When he touches her stomach, he recoils.
She doesn’t notice it.
Everything goes back to normal.

When she’s almost due, her best friend dies.
He’d been in a coma for no specific reason.
He'd been conscious briefly before perishing.
He left a book to Rosemary – “All of them Witches”
And a message: “The name is an anagram.”

She gives birth on June, 1966. Year One.

She’s told that her baby is dead. She doesn’t believe it.
When nobody is watching, she trespasses into her neighbor’s apartment with a knife in her hand.
She’d heard a baby crying.
There's a get-together going on.
Her husband is one of them. Now he's a successful actor.
She sees her baby inside an unusually colored cradle.
She wonders what they’ve done to the baby’s eyes.
Her neighbor says that he has his father’s eyes.


This is the best horror movie I’ve ever seen.

Grade: F

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

SUPERMAN

Ano de Produção: 1978
Diretor: Richard Donner
Roteiristas: Mario Puzo, Leslie Newman, David Newman e Robert Benton

Atores Principais:

Christopher Reeve – Clark Kent/Superman
Margot Kidder – Lois Lane
Gene Hackman – Lex Luthor
Marlon Brando – Jor-El
Ned Beatty – Otis
Jackie Cooper – Perry White
Valerie Perrine – Eve Teschmacher
Glenn Ford – Jonathan Kent
Phyllis Thaxter – Ma Kent
Jeff East – Young Clark Kent
Marc McClure – Jimmy Olsen
Terence Stamp – General Zod
Sarah Douglas – Ursa
Jack O’Halloran - Non

“Superman” é o filme mais marcante da minha infância. Não importa quantas vezes passasse na televisão, eu estava lá para conferir de novo, e de novo, e de novo, com a mesma empolgação da primeira vez que o assisti. A película busca construir o mito do bem absoluto, do completo altruísmo e da mais pura inocência, personificado na figura alienígena do Super-Homem. Estamos diante do retrato de uma verdadeira teogonia.

A introdução se enquadra perfeitamente na definição do “espetacular”. O filme começa mostrando o ocaso do planeta Krypton, previsto por Jor-El (Brando), pai do Homem de Aço, e o subseqüente envio de Kal-El, ainda bêbê, à Terra. Tendo em vista que “Superman” foi realizado em 1978, há de se admirar o desenho de produção de Krypton. Todo branco, girando em torno de um sol vermelho como um gigante cristal, opaco e sólido, o planeta natal do Super-Homem é uma obra de arte em termos de cenário. E tem Marlon Brando. Mesmo lendo suas falas na fralda de seu “filho”, o ator complementa o cenário com sua presença régia e termina por prover a aura mitológica necessária ao registro do nascimento de um deus.

Quando aterrissa na Terra, após atravessar anos-luz de espaço sideral, o garoto Kal-El é acolhido pelos Kents, os quais assumem o papel de seus pais. Com dezoito anos e em luto pela perda de seu pai terráqueo, Clark Kent parte em direção ao pólo norte, atendendo a um chamado silencioso de um misterioso cristal verde que encontra enterrado no celeiro. Chegando a seu destino, Kent lança o cristal a milhas de distância no gelo e, assim, surge a Fortaleza da Solidão, sua casa Kryptoniana aqui na Terra. Lá, através de cristais, que funcionam como um grande banco de dados, ele tem a oportunidade de conversar com seu verdadeiro pai pela primeira vez. A partir daí, Clark Kent passa anos recebendo o restante de seu aprendizado para, então, após finalizado o seu último rito de passagem, ele sair de lá voando já adulto, completo, pronto para ser Super-Homem. É interessante notar que não fica muito claro como Superman conseguiu incorporar o bem absolutamente e rejeitar o mal em todas as suas formas e representações. Afinal, ele foi criado aqui na Terra, rodeado de humanos. A única conclusão é a de que sua natureza alienígena falou mais alto que o ambiente ao seu redor, especialmente depois de sua educação final na Fortaleza da Solidão. O Super-Homem não é um herói identificável, falho, vulnerável, como os deuses da mitologia grega. Ele está muito mais próximo da concepção atual de Deus – onipotente (força, velocidade e invulnerabilidade) e onisciente (visão raio-x e super-audição). Ele é na verdade uma figura de inspiração, um símbolo da bondade e da incorruptibilidade.

Características opostas às de seu arquirrival, Lex Luthor. O cara é feio, egocêntrico, cruel, megalomaníaco, mas, apesar de planejar a morte milhões de inocentes, não é um doente psicopata como o Coringa, por exemplo. Lex está longe de ser o anticristo. Ele é só uma caricatura humorística do mal. Suas cenas são sempre engraçadas, muito por conta de seus sidekicks, Otis e Srta. Teschmacher, os quais servem unicamente como alívio cômico. No entanto, é preciso dar mérito ao vilão, pois colocou o Super numa situação onde não era possível salvar Lois Lane. Depois de salvar New Jersey bloqueando uma represa, Super-Homem chega atrasado na Califórnia e encontra Lois morta, soterrada pelo deslizamento provocado por um míssil nuclear, cuja rota de colisão havia sido alterada por Luthor. Agindo literalmente como Deus, Superman faz a Terra girar ao contrário e volta o tempo a fim de poder salvar a mulher que ama. Até hoje, eu sou contrário a essa idéia, que quase estraga o filme. Mesmo sendo um filme de quadrinhos, fazer a Terra girar ao contrário voando em alta velocidade em sua órbita é absurdo, inverossímil e desnecessário. Se o Homem de Aço consegue voar próximo à velocidade da luz, como é que não dá tempo de parar os dois mísseis?

As demais cenas de ação, nas quais o herói utiliza seus poderes, já são suficientes para entreter e maravilhar o espectador. Super-Homem se coloca sobre trilhos rompidos para evitar que um trem venha a descarrilhar; perfura a crosta terrestre e acomoda placas tectônicas a fim de parar um terremoto; salva um bando de crianças num ônibus escolar na Golden Gate prestes a desabar; sustenta um avião sem uma de suas turbinas até o pouso seguro e, claro, há a cena clássica da primeira vez em que o Super entra em ação. Um helicóptero – Lois Lane é um de seus passageiros – perde o controle e fica pendurado no terraço de um arranha-céu. Lois Lane não consegue se segurar no cinto de segurança e entra em queda livre. Clark Kent está saindo do Planeta Diário, tranqüilo e contente. Demora comicamente a notar que sua donzela está em perigo. Quando ele a vê caindo, corre em direção a um lugar escondido, já abrindo a camisa e mostrando o S no peito, e voa em público pela primeira vez, para delírio da galera. Com Lois Lane em um de seus braços e o helicóptero em outro, Superman salva o dia e vira manchete instantaneamente.

É preciso ressaltar que todas essas cenas são incrivelmente bem feitas, especialmente porque foram filmadas há mais de trinta anos. Tenho certeza de que um espectador que assiste o filme pela primeira vez em 2011 ainda é capaz de curtir “Superman”, desde que seja dotado de uma mínima capacidade de relativizar a película em seu contexto na História do Cinema. Além disso, o impacto do filme é incrivelmente ampliado pela inesquecível trilha sonora de John Williams, talvez o seu melhor trabalho. A música se combina perfeitamente ao tema, pois realmente possui em essência uma característica épica, mitológica.

Como curiosidade, Nick Nolte estava cotado para ser o Homem de Aço, mas disse que só aceitaria o papel se Clark Kent/Super-Homem fosse escrito como um personagem literalmente esquizofrênico. E não é que eu concordo com Nick! Clark e Super são tão diferentes que poderiam ser as duas facetas de uma síndrome de dupla personalidade. Como Bill bem disse em “Kill Bill Volume 2”, Clark Kent é um alter ego criado pela imaginação do Super-Homem. “Super-Homem” é quem ele realmente é. Kent representa a perspectiva que o Super-Homem tem do Homem: fraco, desastrado, inseguro. É através dessa identidade artificialmente construída que Super-Homem se relaciona com a humanidade. Quem tem amigos e família é Clark Kent. É ele que se apaixona por Lois Lane. Superman não tem amigos ou namorada. Seus pais já morreram há muito tempo. Ele é uma divindade alienígena, invulnerável e distante do turbilhão de emoções humanas, as quais só a Clark é permitido experimentar. Christopher Reeve fez um trabalho sensacional com Clark Kent, a faceta humana do Super-Homem. Atrevo-me a dizer que é até possível acreditar que as pessoas no filme não percebem que Clark é o Superman de óculos. Reeve muda a voz, postura, corte de cabelo, o jeito de olhar, infantil e ingênuo, ou seja, tudo que o possibilita a criar empatia com os humanos.

Sua perda foi uma verdadeira lástima para todos nós que crescemos assistindo a todos os capítulos da tetralogia Superman várias e várias vezes. E olha que o III e IV são uma bosta total. Apenas a sua presença já valia o ingresso.

Menção: F

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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS (THE DARK KNIGHT)

Ano de Produção: 2008
Diretor: Christopher Nolan
Roteiristas: Christopher Nolan e Jonathan Nolan

Atores Principais:

Christian Bale – Bruce Wayne/Batman
Heath Ledger – Joker
Aaron Ekhart – Harvey “Two-Face” Dent
Maggie Gyllenhaal – Rachel
Gary Oldman – Gordon
Michael Caine – Alfred
Morgan Freeman – Lucius Fox
Nestor Carbonell – Mayor
Eric Roberts – Sal Maroni
Ritchie Coster – Chechen
Monique Gabriela Curnen – Ramirez
Chin Han – Lau
Cillian Murphy – Scarecrow
Anthony Michael Hall – Engel

Dualidade e Caos. Como sempre acontece nos filmes do Batman, os vilões roubam a cena. É redundante afirmar que Heath Ledger fez o melhor Coringa de todos os tempos, sem dúvida. Jack Nicholson fez bonito no primeiro Batman, porém o seu Joker é um desvairado cômico, gordinho e de meia idade. Heath é uma força da natureza, um absoluto, sem nome e sem passado. Em resumo, um agente do caos, como seu próprio personagem declara em certo momento do filme. A dualidade é obviamente representada pelo Duas-Caras, mas também é refletida em diversos aspectos do filme.

O primeiro exemplo revela-se pelo par Dark Kight/White Knight. Enquanto que Batman usa os punhos para administrar justiça, Harvey Dent faz o mesmo trabalho dentro da lei. O próprio Bruce Wayne admira a sua coragem e dá uma festa para arrecadar fundos para financiar o trabalho de investigação da Procuradoria, chefiada pelo futuro Duas-Caras. Bruce sabe que é preciso muito mais coragem quando o combate ao crime organizado é realizado sem máscaras, com seu rosto aparecendo na televisão diariamente. Harvey Dent é o verdadeiro super-herói do filme, pelo menos até a sua transformação. Sem nenhum traço de receio pela sua vida, Dent prende metade de toda a máfia (não só a italiana) de Gotham; claro, com a ajuda de um informante, capturado por Batman. Na famosa cena da caneta desaparecendo, na qual o Coringa oferece aos mafiosos seus serviços para matar Batman, ele aproveita para nos explicar que figuras insanamente corajosas como Harvey Dent são inspiradas pelo sucesso do Homem-Morcego no combate ao crime organizado. Em outras palavras, a partir de um elemento, surge outro oposto e complementar, com o mesmo propósito e, assim, a moeda se completa com suas duas faces.

A segunda e mais interessante dualidade é composta pelo previsível/imprevisível, respectivamente representados pelo Batman e pelo Coringa. A contraposição se dá, portanto, entre o rígido código de princípios do Batman e a completa ausência de regras e limites do Coringa. Ao contrário de Batman, cujas principais regras são proteger os inocentes e não matar os criminosos, o Joker consegue o que quer passando por cima de tudo e de todos. E, como o seu único objetivo é instalar o caos e ver o mundo pegar fogo, não há como entender suas motivações e prever suas ações futuras. É por isso que o Coringa está sempre em vantagem sobre o nosso herói. Sabendo que Batman nunca chegará ao ponto de assassiná-lo, o Coringa se diverte torturando e testando os limites do Homem-Morcego até o ponto em que o último chega à conclusão de que a única maneira de vencê-lo é não cumprir as regras. Inclusive, diante do sentimento de impotência perante o arquirrival, Bruce Wayne até considera a possibilidade de aposentar o seu alter ego.

A cena dos dois na sala de interrogatório é um dos confrontos herói-vilão mais bem escritos da história dos filmes adaptados de quadrinhos. Sinceramente, a gente se diverte junto com o Coringa quando ele estabelece a escolha que o Homem-Morcego deverá fazer – quem ele salvará da morte certa? Rachel, o amor de sua vida, ou seu sucessor no combate ao crime, Harvey Dent? Há outra cena na qual o Coringa utiliza um dilema para instaurar o caos e rebaixar os homens ao seu lado mais animalesco. Dois barcos; um com passageiros comuns, o outro com presos; uma bomba em cada um; cada barco tem o detonador para explodir o outro até meia-noite. Passado o horário, ninguém, nem mesmo os condenados, aperta o botão. A civilização vence o caos dessa vez e ninguém sai ferido. O espírito de cooperação prevalece sobre o individualismo. Será mesmo que se daria o mesmo resultado na vida real? Tenho minhas dúvidas. Enquanto Batman e Coringa caem na porrada na sua luta final, simultaneamente eles travam exatamente essa discussão filosófica: no momento de crise, o Homem recorre à sua capacidade para o bem ou à sua capacidade para o mal?

Harvey Dent é o grande trunfo do Coringa, pois, no final, se deixou levar pelo lado negro da força. É uma cena maravilhosa. Vestido de enfermeira, O Joker está no quarto do hospital onde o Duas-Caras se recupera da tragédia que acabara de acontecer. A sua sombra, representada pela metade deformada de seu rosto, torna-se a personalidade dominante na medida em que o Coringa o manipula e eventualmente o convence de que os verdadeiros responsáveis pela morte de Rachel são o Comissário Gordon e sua equipe corrupta. Ele, o Coringa, foi apenas o agente. A mim, não me convenceu muito. Mesmo que a moeda tenha favorecido o Coringa, eu o teria matado de qualquer forma.

Brilhante a atuação de Ledger quando o Coringa sai do hospital e detona a bomba. Ela demora um pouco para explodir totalmente e, por isso, ele olha para o detonador, dá uma balançada nele, checa a bateria e aí sim a bomba explode. Pronto, o hospital principal de Gotham está destruído, assim como ele havia prometido. Como a cena só poderia ser filmada em um take, a fim de que a explosão fosse genuína e não um efeito digital, Heath não sai do papel, mesmo quando a bomba demora a explodir. Descobri que a checadinha no detonador foi pura improvisação.

Tecnicamente, o filme é quase perfeito. A fotografia, realizada por Wally Pfister, ganhador do Oscar por “A Origem”, é espetacular. É o primeiro filme de ficção no qual são utilizadas câmera IMAX e percebe-se a diferença. As cenas panorâmicas, filmadas de cima dos prédios, são de tirar o fôlego. “O Cavaleiro das Trevas” é definitivamente um daqueles filmes que vale a pena ter uma cópia em bluray. Nessas condições, é até melhor assistir um filme desses em casa do que no cinema. E nem há necessidade de se ter um bluray player, uma vez que cópias em alta definição estão amplamente disponíveis nos sites de download.

Só tenho uma reclamação quanto ao aspecto técnico. As cenas de luta ainda são editadas muito rapidamente. Mal dá pra ver o que acontece. Como o uniforme está mais leve e flexível, as lutas são mais empolgantes do que em “Batman Begins”, mas ainda não estão boas. A dificuldade de movimento que Christian Bale enfrenta toda vez que luta ainda é perceptível. Com alguma atenção, é possível notar que, em alguns momentos, os capangas esperam paradinhos o soco ou o pontapé do Batman chegar para que eles, aí sim, possam se jogar no chão. Esse detalhe pode parecer bobo, mas esse tipo de coisa corrói um pouco a credibilidade de Batman como herói incapaz de perder uma briga. É apenas uma questão de verossimilhança. A expectativa é a de que, no último exemplar da trilogia, o Batman esteja mais ágil ainda e, portanto, mais convincente como porradeiro invencível.

Observação final de nerd: ocorre um erro de roteiro na cena em que o Coringa entra de penetra na festa oferecida a Harvey Dent por Bruce Wayne em sua cobertura. Coringa ameaça matar os convidados, um por um, até que alguém revele a exata localização de Harvey Dent. Ninguém sabe. O Joker toma uma medida drástica e ameaça Rachel com uma faca encostada em sua garganta, na beira de uma janela aberta. Batman chega para salvar o dia e demanda que o Coringa largue a moça ou então... “Poor choice of words!” diz o Coringa e larga a moça janela abaixo. Batman pula desesperado pela janela e consegue salvá-la diminuindo a velocidade da queda de ambos com a sua capa e amortecendo-a com o seu corpo. Rachel está sã e salva. Corta para uma cena completamente diferente, o filme continua e ninguém mais menciona a festa. Ué, e o Coringa lá em cima, na cobertura ainda repleta de reféns prontos para o abate? O que aconteceu? O Batman simplesmente se esqueceu de seus convidados e os deixou lá, à mercê do psicopata mais violento da cidade? Por que Batman não volta a sua cobertura e prende o Coringa? Pode ser que ele voltou de fato e o Joker já tinha conseguido fugir. Mas como se o Batman estava lá embaixo, teoricamente bloqueando a única maneira de o Coringa sair do prédio?

O interessante é que ninguém percebe esse erro de continuidade, pelo menos quando assiste o filme pela primeira vez. São os poderes de uma edição ágil e eficiente. As platéias-teste com certeza não devem ter mencionado nada a esse respeito. E, mesmo a par desse lapso, continuo achando esse filme nada menos do que fantástico.

Menção: F

Link no imdb.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

HOMEM-ARANHA 3 (SPIDER-MAN 3)

Ano de Produção: 2007
Diretor: Sam Raimi
Roteiristas: Sam Raimi, Ivan Raimi e Alvin Sargent

Atores Principais:

Tobey Maguire – Peter Parker/Spider-Man
Kirsten Dunst – Mary Jane Watson
James Franco – Harry Osborne/New Goblin
Thomas Haden Church – Flint Marko/Sandman
Topher Grace – Eddie Brock/Venom
Bryce Dallas Howard – Gwen Stacy
Rosemary Harris – May Parker
J.K. Simmons – J. Jonah Jameson
James Cromwell – Captain Stacy
Dylan Baker – Dr. Curt Connors
Bill Nunn – Robbie Robertson
Elizabeth Banks – Miss Brant

Quatro anos depois de seu lançamento, fica claro o equívoco chamado “Homem-Aranha 3”. Sam Raimi nunca deveria se meter num gênero que lhe é pouco familiar. Mesmo após o fracasso estrondoso do romance “Por Amor”, uma excrescência que contribuiu para o completo declínio da deplorável carreira de Kevin Costner, Sam Raimi insistiu mais uma vez em sair do gênero horror e, previsivelmente, não foi bem sucedido. Os dois primeiros exemplares da trilogia Spider-Man não são uma total porcaria, mas ficaram muito aquém das expectativas. O terceiro é um desastre de proporções pantagruélicas.

O primeiro e mais grave erro está presente em todos os três: o elemento cômico é quase inexistente. Parece que não leram os quadrinhos direito. Quando criança, fazia coleção dos quadrinhos, especialmente a “Teia do Aranha”, uma reedição das histórias clássicas do herói. Pelo que eu me lembre, eu adorava o Homem-Aranha porque ele era um brincalhão, um gozador que não se levava a sério e espancava seus rivais sacaneando com a cara deles. Nos filmes, tudo é muito dramático, trágico e solene. O sofrimento pela perda do tio Ben e a subseqüente motivação para se tornar um super-herói é totalmente justificável no primeiro capítulo da trilogia. Afinal, vem da revista a popular frase “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. No entanto, em “Homem-Aranha 3”, Peter Parker é forçado a reviver a mesma tragédia, pois resolveram mudar a identidade do assassino do tio Ben para o Homem-Areia. Decidiram por essa medida para ampliar a intensidade do conflito entre herói e vilão e prover uma base mais sólida para sua eventual rivalidade. Tudo bem, concordo que qualquer batalha entre o bem e o mal fica mais interessante quando está bem motivada, mas não podia ser outro o motivo? Os roteiristas certamente poderiam ter sido mais criativos. Ficou muito conveniente, muito fácil e o pior, muito dramático. Porra, chega de drama! Ainda por cima, Flint Marko (o Homem-Areia) tornou-se um criminoso para conseguir dinheiro para tratar da filha doente! O resultado é Parker e Marko chorando por qualquer coisinha durante todo o filme! Que chato! Entediante! Banal!

O segundo erro: casting. Melhor dizendo, MIScasting. Tobey Maguire tem cara de bobo. Ele é meio paspalho, boca aberta, quase burro. O ator criou um Homem-Aranha infantil e irritantemente ingênuo. Nesse filme, ele nos presenteou com a sua versão do Emo-Aranha quando está dominado pelo seu lado negro, o qual foi libertado pelo uniforme alienígena. E quem teve a idéia ridícula da franjinha? O cara devia levar um tiro. Pior casting foi o de Topher Grace como Venom. Quem leu os quadrinhos sabe que Eddie Brock era um jornalista obsessivo e inescrupuloso, rival de Peter Parker, e halterofilista nas horas vagas. Em outras palavras, o cara era grande e escroto pra caralho. Quando o uniforme se acopla a Eddie e ele se transforma em Venom, o resultado é simplesmente um demônio assassino. No filme, Topher Grace, coitado, é outro paspalho e chorão, além de ser baixote e magrinho. Nem os dentes pontudos o ajudam a transmitir medo. O seu pouco tempo na tela também não contribuem para a efetividade de seu personagem. Depois de sua transformação, a única coisa dá tempo para fazer é seguir à luta final contra o Aranha.

Esse é outro problema. Há um excesso de personagens, principalmente de vilões. Por que Sam Raimi fez questão de usar três super-vilões? Só porque o filme é o terceiro da trilogia? Tenho certeza que todos os fãs sonhavam com a possibilidade de finalmente ver a encarnação de Venom no cinema. Ele merecia ter sido o único vilão. Lógico, retratado por outro ator. Se o Homem-Aranha de uniforme azul e vermelho é o Dr. Jekyll e ele de uniforme preto é o Mr. Hyde, Venom é o Mr. Hyde on steroids. É um personagem sombrio, proveniente de histórias de horror, que daria muito pano pra manga nas mãos certas. O monstro não combina com o colorido kitsch, típico dos anos sessenta, personificado pelo Homem-Areia. Poderíamos ficar sem ele tranquilamente, apesar de ter ficado muito bem feito visualmente. Inclusive, na revista, o Homem-Areia costumava trabalhar junto com o Homem-Hídrico. Nada mais contrastante com o aspecto gótico e moderno, inerente ao Venom. Um erro crasso deveras. Por falta de conhecimento, os roteiristas misturaram um vilão do Homem-Aranha para crianças com um do Homem-Aranha para jovens e adultos. Situação análoga seria uma comédia estrelando Jerry Lewis e Daniel Day-Lewis. Venom teria sido perfeito se esse filme tivesse sido dirigido por Christopher Nolan, no estilo “Dark Knight”.

O roteiro de “Homem-aranha 3” é claramente um caos. Dá para perceber que era constantemente reescrito até o fim das filmagens. Mary Jane vira cantora e passa por um conflito chatíssimo, no qual me nego a entrar em detalhes. Resumidamente, o seu namoro com Parker entra em crise porque ela quer mais atenção e menos Homem-Aranha combatendo o crime. Qual espectador prefere ver Peter Parker e MJ tendo uma DR ao invés de Spider-Man chutando traseiros? O personagem de Kirsten Dunst acaba se transformando num incômodo obstáculo para ação. E para completar a sua decadência, ela é DE NOVO usada como isca pelos vilões para atrair Spidey à batalha final, igualzinho aos dois filmes anteriores. O incrível é que todos os vilões da trilogia sabem que Peter Parker é o Homem-Aranha, mas nenhum deles revela seu segredo. A imprensa nunca fica sabendo.

Por último, Mary Jane canta e Peter Parker dança, ou seja, Sam Raimi quis incorporar o gênero musical em “Homem-Aranha 3”. Por que alguém não demitiu Raimi nessa hora? É claro, lógico, óbvio que não ia dar certo. Broadway + Homem-Aranha = Catástrofe. A cena em que Tobey Maguire, no auge do seu Mr. Hyde emotional, dança na rua até a boate onde MJ canta é historicamente vergonhosa. As duas boas cenas de luta do filme – ambas coincidentemente contra o novo Duende – perdem totalmente o seu impacto por conta dos números musicais.

A esperança é a de que o reboot que vem por aí mude a franquia completamente de direção e tenda para um lado mais cômico, mais leve, sem dramalhão. Ou, se é para ser dramático, faça como o novo guru dos filmes de super-herói, Christopher Nolan, fez em “O Cavaleiro das Trevas”. Quando os grandes estúdios vão entender que não há necessidade nenhuma de se imbecilizar um filme, mesmo que seja para agradar as crianças? Tenho certeza que pessoas de todas as idades adoram a sua versão do Homem-Morcego.

Ainda bem que você voltou ao gênero terror com “Arraste-me para o Inferno”, Sam Raimi! Continue assim!

Menção: U

Link no imdb.