quarta-feira, 28 de setembro de 2011

INVERNO DE SANGUE EM VENEZA (DON’T LOOK NOW)

Ano de Produção: 1973
Diretor: Nicolas Roeg
Roteiristas: Alan Scott e Chris Bryant

Atores Principais:

Donald Sutherland – John Baxter
Julie Christie – Laura Baxter
Hilary Mason – Heather
Clelia Matania – Wendy
Massimo Serrato – Bishop Barbarrigo
Renato Scarpa – Inspector Longhi
Adelina Poerio – Dwarf

Sinceramente não entendi por que esse filme é considerado um dos maiores clássicos do suspense moderno. Talvez porque estivesse esperando muito dele. Há, de fato, uma atmosfera surrealista, que preenche toda a película, mas não consegui detectar os elementos que geraram as críticas fervorosamente positivas a respeito de “Inverno de Sangue em Veneza”. Não fiquei apreensivo ou com medo. E olha que qualquer filme de terror, com o mínimo de qualidade, me tira o sono. Como eu tinha lido que o seu desfecho ficou famoso por ter deixado as platéias apavoradas, estava só muito curioso para saber a grande revelação final, cujo impacto não fez nem cócegas nas minhas expectativas.

No entanto, dois pontos fortíssimos do filme devem ser salientados. O primeiro é a legendária cena de sexo do casal protagonista. Donald Sutherland e Julie Christie impressionam por terem projetado intimidade e afeto de maneira tão crível, especialmente quando se sabe que Sutherland e Christie tinham acabado de se conhecer no set. Dizem que ela estava apavorada por ter sido literalmente a primeira cena de ambos. Porém, a cena serve para estabelecer credibilidade ao casal como casal. É, na verdade, um mecanismo de desenvolvimento dos personagens. A cena é lindíssima, por sinal. Estamos falando de algo relativamente raro no cinema: uma cena de sexo não gratuita e não vulgar, protagonizada por atores de aparência “normal”. Julie Christie é linda, mas não caberia perfeitamente nos padrões de hoje.

O segundo é a fotografia de Nicolas Roeg. Veneza é um cenário muito utilizado em romances e filmes de época por conta de sua beleza arquitetônica singular e sua luminosidade incrível. A maneira pela qual a luz do sol reflete em suas águas é sensacional. Nesse filme, Veneza não é nada disso. Aqui a cidade é um labirinto sombrio e abandonado, quase um cenário apocalíptico, o que conta consideravelmente para a construção bem sucedida da atmosfera lúgubre e surreal da película. O uso da cor vermelha como contraste aos tons de branco, cinza, bege e marrom dos prédios e figurino dos personagens centrais, já amplamente discutida na literatura de crítica de cinema, também acrescenta ao suspense como um elemento de tragédia iminente. É interessante notar que o vermelho anuncia as duas mortes no filme, como se fosse o causador destas.

Reconhecidos tais pontos, o filme surpreendentemente não me “pegou”. “O Bebê de Rosemary” funciona também muito na base da sutileza psicológica e da sugestão de que algo maligno e inevitável assediará e torturará os personagens até conseguir o que deseja, mas, de alguma forma, o sofrimento pelo qual passa Rosemary me incomodou (no bom sentido) muito mais do que a abstrata ameaça de perigo que ronda o casal Baxter. A sua dor, em razão da perda da filha pequena no início do filme, é mais poética, mais onírica e, por isso, menos angustiante, principalmente porque a filha, através de uma personagem médium, entra em contato com os pais do além para protegê-los. O aspecto sobrenatural do filme é positivo, angelical. Em “O Bebê de Rosemary” esse aspecto é exatamente o contrário: negativo, demoníaco.

É aí que entra a minha decepção. Não há nada de sobrenatural assediando os protagonistas. A revelação final apresenta apenas uma coincidência trágica, causada por algo real e concreto. Para mim, isso foi um anticlímax. Inclusive, quando descobrimos de onde vem o “Mal” no filme, a sensação é de traição, pois a sua materialização se dá numa forma da qual conhecemos muito pouco. O verdadeiro vilão da história não tem desenvolvimento nenhum; nem sequer uma motivação para seus crimes nos é mostrada.

Em conversas com meu grande amigo, Igor, me foi apontada um característica muito interessante a respeito dos filmes de horror, o qual está presente nesse também: o herói sempre morre. Aliás, pode-se dizer que não há heróis no gênero horror, apenas vítimas. E ninguém melhor para desempenhar o papel de vítima da morte mais imprevisível do que o personagem mais forte e, geralmente, mais cético do filme, o qual se encontra impotente, tentando fugir de uma situação inescapável.

Enfim, esse é um daqueles filmes que reconheço a sua alta qualidade técnica e artística, mas que não me agrada num nível puramente subjetivo, tal como a maioria dos filmes de arte. David Lynch, Wim Wenders, Werner Herzog dos anos 70 e 80, Godard, Antonioni são exemplos de diretores de filmes que não podem ser classificados como ruins, mas, com o perdão dos cinéfilos intelectuais, a verdade é que eu não os suporto.

Menção: A

Link no imdb.

5 comentários:

  1. Quer dizer que vc não curtiu "Cidade dos Sonhos" (e o monstro que mora no quintal)? Lendo essa sua crítica, lembrei que experimentei o mesmo sentimento de decepção quando vi "O Iluminado". Sei que ele está entre seus top 100, mas o considero um filme absolutamente superestimado.

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  2. Detesto "Cidade dos Sonhos", hehe. O filme é puro estilo e atmosfera, os quais não me agradam em nada.
    E filme de horror é assim mesmo. Mesmo reconhecendo qualidades no filme, ele não funciona se ele não te deixa com algum tipo de desconforto, ou medo, ou tensão. O Iluminado não te "pegou", só isso.

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  3. Pois é, não mesmo. Outro filme cultuado que detesto é "The Rocky Horror Picture Show". Lixo!

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  4. Diego, tive a mesma sensação que você ao assistir "Inverno de Sangue em Veneza". Visitei uma página que indicava esta obra com um dos 10 melhores filmes de terror da história, e não hesitei em baixá-lo. Nem medo, nem sustos. Um pouco de tensão, como na cena em que John quase despenca do teto da igreja, e uma curiosidade pela figura de vermelho que me fez assistí-lo até o final decepcionante. E olhe que custou, pois me deu até sono.

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