THE COMMITMENTS – LOUCOS PELA FAMA (THE COMMITMENTS)

Ano de Produção: 1991
Diretor: Alan Parker
Roteiristas: Dick Clement, Ian La Frenais e Roddy Doyle

Atores Principais:

Robert Arkins – Jimmy Rabbitte
Michael Aherne – Steven Clifford
Angeline Ball – Imelda Quirke
Maria Doyle – Natalie Murphy
Dave Finnegan – Mickah Wallace
Bronagh Gallagher – Bernie McGloughlin
Félim Gormley – Dean Fay
Glen Hansard – Outspan Foster
Dick Massey – Billy Mooney
Johnny Murphy – Joey “The Lips” Fagan
Kenneth McCluskey – Derek Scully
Andrew Strong – Deco Cuffe
Colm Meaney – Jimmy Rabbitte, Sr.

É importante ressaltar logo de cara que “The Commitments” não é um musical comum, no qual as pessoas param o que estão fazendo e começam a cantar no meio da rua. Tendo em vista que o filme é sobre uma banda, a música logicamente aparece somente nos shows e nos ensaios. Na verdade, é até difícil afirmar que esse filme pertence perfeitamente ao gênero musical, pois se caracteriza como comédia facilmente.

“The Commitments” é realmente muito engraçado. Talvez o filme mais leve e despretensioso do grande diretor inglês Alan Parker. Ele mesmo declarou que foi a experiência mais divertida de sua carreira. Quase não há cenas cuja conclusão não apresenta algum tipo de palhaçada ou punchline. Uma das seqüências mais hilárias acontece no primeiro terço do filme, quando Jimmy está organizando as audições em sua casa. Embora o anúncio que postara nos classificados tivesse deixado bem claro que a banda era de soul music, todo tipo de gente aparece; punks fãs de Barry Manilow, música tradicional irlandesa, religiosa, folk, heavy metal... até que, no final, Jimmy consegue achar o saxofonista e trompetista que estavam faltando. Uma curiosidade sobre essa parte consiste na última pessoa a se candidatar. Um garoto de skate toca a campainha e se anuncia como potencial vocalista da banda. Jimmy, que está no meio do banho “se entrevistando” (ele se imagina dando entrevistas em talk shows no futuro após atingir fama e sucesso), da janela do banheiro, pede a ele para cantar ali mesmo, no meio da rua. O garoto se recusa e vai embora. Só isso, simples. Pois é, esse menino é o famoso modelo das capas dos discos do U2 de 1980 e 83. Já crescido durante as filmagens de “The Commitments”, descobri que ele é skatista profissional e dono de uma loja de skates em Dublin.

Outro aspecto interessante da película é o fato de seus personagens serem todos North Siders, ou seja, eles pertencem à classe proletária de Dublin e têm orgulho disso. Tanto é que eles passam por uma transformação muito parecida com a que mencionei na resenha sobre o documentário “Lixo Extraordinário”. Os Commitments recuperam sua auto-estima e se dão novamente o direito de sonhar com o sucesso. No entanto, esse reforço na identidade também trouxe malefícios, os quais foram umas das principais causas, se não a principal, do eventual esfacelamento da banda. Em qualquer banda, especialmente as com um grande número de membros, todos devem fazer concessões para o bem geral. O grande problema é que, à medida que o sucesso se aproximava e os sonhos ficavam mais ambiciosos, mais individualistas eles ficavam. O resultado é uma sucessão de brigas homéricas no terço final do filme pelos motivos mais triviais. Aponto dois integrantes como maiores responsáveis pelo declínio dos Commitments.

Deco, o vocalista, e Joey “the Lips” Fagan, o trompetista. O primeiro porque, desde sempre, é o cara que consegue antagonizar todos da banda, sem exceção. Apesar de sua voz fantástica, perfeita para o soul, ninguém o suporta. Ele reclama o tempo todo, é um porco, passa as cantadas mais sujas nas mulheres da banda... em resumo, é aquele que já era estrela antes da banda e, agora, está insuportavelmente estrela. O primeiro baterista, por exemplo, odeia o vocalista tão profundamente, que pede para sair porque se antevê eventualmente saindo na porrada com Deco. Ele até considera a possibilidade, até porque o babaca merece uma boa coça, mas prefere evitar porque está em liberdade condicional.

Joey é o oposto de Deco. Ele é o guru. Sempre calmo, nunca perde a cabeça. Quando os ânimos estão elevados, ele sempre aparece com uma frase de efeito ou uma lição acalentadora. Ele só tem um problema: é um mulherengo inveterado. O “boca de ouro” seduz as três mulheres da banda. No final, o motivo principal das três se engalfinharem o tempo todo é, logicamente, o nosso Joey Fagan. E mais uma, ele jura que conheceu os grandes da música nos anos sessenta e setenta, incluindo Elvis, Jimi, Otis Redding, Marvin Gaye, Stevie Wonder, Wilson Pickett. Esse último tem um importante papel a desempenhar no filme. Em certo momento, Jimmy descobre que Wilson estendeu o itinerário de sua turnê a Dublin. Ele e Joey vão ao hotel onde ele está hospedado para convidá-lo a tocar junto com os Commitments num pequeno pub após o fim de seu espetáculo. Joey pede a Jimmy para falar com Pickett a sós, pois alega ainda existir entre eles uma pequena rixa do passado. Depois da conversa, Joey garante a Jimmy que Wilson Pickett cumprirá sua promessa de aparecer e prestigiar a banda.

Essa promessa definitivamente era o que a banda precisava para se levar a sério, apesar dos cada vez mais freqüentes atritos pessoais. É a partir dela que todos passam a considerar o sucesso como possibilidade verdadeira e próxima. O sentimento de expectativa aumenta ainda mais quando a imprensa afirma que irá comparecer ao espetáculo para registrar o momento. Não sem razão, esse show em particular é o melhor da banda. A platéia do pub cantou junto, aplaudiu profusamente e pediu mais. Um olheiro de uma pequena gravadora oferece um contrato. Tudo fantástico. Porém, o ídolo não dá as caras. É um golpe poderoso, que finalmente enterra a banda. O ceticismo, a frustração e a falta de valor próprio se instalam novamente. O resultado é a brigaiada gigantesca no final, acima mencionada. Joey, coitado, mesmo que bem intencionado, prometeu um milagre que não aconteceu e, sem querer, acabou com os Commitments de vez.

Perdão, já contei a vocês que a música é excelente? Desculpe. Claro, a banda é fantástica. As músicas selecionadas empolgam até o mais letárgico dos espectadores. Não é nenhuma surpresa o fato de que os Commitments fizeram a transição da película para vida real e são uma banda de verdade até hoje. Os membros já não são mais os mesmos, mas a essência permanece. Eles, com certeza, ainda têm soul. Fizeram show no Brasil, inclusive.


Menção: A

Link no imdb.