segunda-feira, 22 de agosto de 2011

QUANDO ÉRAMOS REIS (WHEN WE WERE KINGS)

Ano de Produção: 1996
Diretores: Leon Gast e Taylor Hackford

Estrelas Principais:

Muhammad Ali
George Foreman
Don King
Norman Mailer
George Plimpton
Spike Lee
James Brown
B.B. King

“Quando éramos Reis” irradia energia pela tela. O filme é uma grande viagem nostálgica aos anos 70, época em que artistas e atletas se engajavam politicamente, uns mais, outros menos. Muhammad Ali, o maior boxeador de todos os tempos, certamente pertence à categoria do atleta inteligente, articulado e politizado, artigo em extinção na atualidade.

Muhammad era um poeta, na verdade. Sua facilidade em manipular a linguagem, muitas vezes de maneira improvisada, na hora, era incrível. Suas rimas antecedem o rap de certa forma. Em entrevista coletiva dias antes da luta contra George Foreman, já em Kinshasa, Ali veio com os seguintes versos, claramente não planejados: “You think the world was surprised when Nixon resigned? Just wait till I kick Foreman’s behind!” E, lógico, não poderia deixar de citar sua frase mais famosa: “Float like a butterfly, sting like a bee. His hands can't hit what his eyes can't see. Now you see me, now you don't. George thinks he will, but I know he won't.” Nesse sentido, uma bela cena se dá próximo ao desfecho – George Plimpton, em uma de suas entrevistas para o filme, cita o menor poema da História, cunhado por Ali em palestra a cerca de dois mil formandos de Harvard: “Me. We.”

Como não poderia deixar de ser, a película também revela a faceta política do grande boxeador. Muhammad era defensor ardoroso do direito a liberdades civis e dava exemplo, pois obteve sucesso sem precisar se submeter aos valores brancos da sociedade americana dos 60 e 70. Muhammad Ali não tinha medo de dizer nada publicamente. Tornou-se um anti-herói americano quando disse não à convocação do exército para lutar na Guerra do Vietnã, ato valente na época, pois lhe custaram o cinturão de Campeão Mundial e sua licença para lutar. Patriota, na acepção americana da palavra, definitivamente não é sua característica. Muhammad tinha a coragem de declarar à câmera que os Estados Unidos não eram seu verdadeiro lar, mas sim a África. Ali sente o mais absoluto orgulho de sua herança étnica quando está em solo africano. Sua curta experiência no Zaire o encantou a ponto de convencê-lo que o negro africano estava num nível acima do “african-american”. Uma imagem do filme que mostra bem isso é uma onde Ali está no avião para Kinshasa e fica impressionado pelo fato de que toda a tripulação do vôo, inclusive o piloto e co-pilotos, é negra. Em determinado momento da película, o boxeador promete a seus interlocutores que levará tudo de positivo que aprendeu da cultura africana à América, em especial aos jovens afro-americanos.


O mais estarrecedor do filme é, de fato, a luta final. George Foreman era mais jovem, mais forte e mais brutal. Aniquilou seus dois adversários anteriores no segundo assalto. Quando treinava no saco de areia, deixava um buraco, ou melhor, uma depressão nele, devido à força de seus golpes. Ali se recusava a ver George treinando para não se deixar controlar pelo medo. Todos os comentaristas declaravam com toda certeza que Muhammad Ali não tinha a menor chance. Aliás, “Quando éramos Reis” tem uma grande qualidade. Até o momento da luta começar, o filme alterna entre entrevistas e os shows de música. Ambas provêm a sensação de pura energia e de antecipação ao espectador. As entrevistas porque, em sua maioria, mostra alguém argumentando a impossibilidade de George perder a luta. Ali era o único que acreditava em sua vitória. E a música! Simplesmente maravilhosa! A visão de B.B. King tocando sua guitarra enlouquecidamente e a de James Brown dançando e cantando deixam o espectador energizado, quase pulando da cadeira, cheio de expectativa para ver a luta, mesmo já sabendo o resultado final.

A luta em si é uma aula de boxe. É a prova cabal de como a inteligência e experiência do atleta são mais importantes do que todo o vigor físico do mundo. Do soar inicial do gongo até sua queda, Foreman esteve sempre sob o controle de Ali. Durante a luta, Muhammad se deixava encurralar sobre as cordas e constantemente “conversava” com George. Provavelmente como uma tática de desmoralização, fico imaginando Ali gritando no ouvido de seu adversário: “Você não é de nada! Todo mundo falava que você era forte, mas eu não tô sentindo nem cócegas! Bate de verdade, George!” Aí, quando George cansou de tanto bater sem nenhuma eficiência, Muhammad Ali deu uma reviravolta e nocauteou George Foreman fantasticamente. O legal dessa parte do filme é que a câmera mostra a expressão de surpresa e admiração dos fãs, jornalistas e comentaristas ao redor do ringue no momento da queda, como se tivessem acabado de testemunhar um milagre. Bem mais emocionante do que assistir qualquer filme ficcional de boxe, “Rocky” inclusive.

A minha única objeção ao filme nunca poderia ter sido remediada, pois teria sido impossível colocá-la em prática. Eu queria ter visto como era Muhammad Ali longe das câmeras. Quando a câmara ligava, parece-me que algo dentro de Ali também ligava. Todas as provocações, as rimas, os ditos arrogantes, o ego gigantesco, a autoconfiança inabalável eram certamente apenas uma persona, uma faceta de Ali, como se fosse parte de seu trabalho. Pelo menos, temos um vislumbre do Muhammad privado no papel criado por Will Smith, em “ALI”, dirigido por Michael Mann, também um filme altamente recomendado.

Depois que você assiste “Quando éramos reis”, é até covardia comparar Muhammad Ali com os atletas de hoje, que mal sabem se expressar. É triste perceber como a ignorância, a máscara e a ganância imperam no mundo dos esportes do século XXI. A era de Ali no boxe; de Larry Bird e Magic Johnson no basquete; de Zico, Sócrates e Falcão no futebol infelizmente acabou.

Menção: O

Link no imdb.

5 comentários:

  1. quero ver muito depois dessa crítica

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  2. Você vai adorar! Será nosso próximo filme!

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  3. ótimo comentário, PARABÉNS!!!

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  4. Comecei a ler os livros de James Patterson (saga Alex Cross)e em quase todos era citado o nome de Muhammad Ali,então decidi pesquisar sobre e acabei me apaixonado por ele. Tanto que entrei para aulas de boxe feminino em fevereiro desse ano *-* kkkkk Voce citou os irmãos Falcão ali em cima,pois bem,eu sou capixaba e conheço ambos os garotos e acompanhei parte da vida deles. Também acho exagero compara-los com o Ali kkkkkk Eu consegui um site que da para baixar o documentario,quem quiser é esse aqui http://www.bestdocs.com.br/2009/12/quando-eramos-reis.html Depois de baixar (necessita ter um programa para baixar torrent) o arquivo zip vc abre ele com o Winrar e clica onde tem o icone do programa e pronto *-* Bom filme para vcs!

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  5. se baixou coloca ai seu puto..kero saber do maior racista que o mundo ja viu.

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