terça-feira, 9 de agosto de 2011

CAINDO NA REAL (REALITY BITES)

Ano de Produção: 1994
Diretor: Ben Stiller

Roteirista: Helen Childress

Atores Principais:
Winona Ryder – Lelaina

Ethan Hawke – Troy
Ben Stiller – Michael
Janeane Garofalo – Vicky
Steve Zahn – Sammy

CONTÉM SPOILERS
“Caindo na Real” tem a pretensão de ser um retrato fiel dos recém formados da faculdade nos anos 90. Consegue ser apenas superficialmente. Não tem como negar, a trilha sonora é recheada de sucessos da época, as roupas, os vídeos “edgy” da MTV, bandas grunge tocando no subsolo de pequenas boates alternativas, até o cabelo do Ethan Hawke é ensebado no estilo Kurt Cobain. Mas, fica por aí. A estrutura do filme segue a fórmula da comédia romântica. Quem ainda suporta ver a velha historinha do casal central brigando e se odiando no decorrer de 90% do filme, para depois descobrirem que estão diante do amor de sua vida? No universo da comédia romântica, todas as picuinhas, as ofensas, as mentiras são perdoadas quando, no final do filme, um dos personagens faz uma declaração de amor comovente e sincera, e o outro se emociona e se esquece de tudo de ruim que aconteceu. Os dois se beijam e juram que tudo vai ficar bem. Pronto, final feliz.

Final feliz teoricamente. Eu, pessoalmente, fiquei com muita pena da Winona. Porra, alguém me explica, por favor, a razão pela qual, depois de uma meia hora de filme, ela simplesmente não manda o Ethan Hawke se foder e parte para outra. Eu sinceramente nunca vi o herói do filme ser tão escroto, grosseiro, sem carisma, fracassado, preguiçoso, pseudo-intelectual e o pior: ele é, acima de tudo, um covarde, um cagão! O cara passa o filme inteiro sacaneando, ofendendo, espezinhando a mulher que ele ama! Ah, coitado! Ele tá com medinho de abrir o coração! A própria personagem da Winona, Lelaina, passa a maior parte do filme acabando com ele, dizendo umas boas verdades do tipo “você não tenta, não produz nada, só fica sentado no sofá o dia inteiro fumando, comendo Pringles e criticando o establishment”. Ou seja, eu acho que você é um sanguessuga, medroso e pedante, mas eu te amo, tá? Qual é! Faça-me o favor.

Em contrapartida, Michael (Ben Stiller) é o vilão mais gente boa da história do cinema. Não entendi porque a Winona não o escolheu logo de cara, uma vez que ele supera e muito o nosso “mocinho”, Troy. Michael é consistentemente gentil e carinhoso, é esforçado no trabalho, ganha bem, tem carro, leva-a para jantar e, aparentemente, não tem problemas de cama (isso com base numa cena dos dois na casa dele, de manhã. Ela está toda animadinha e sorridente). E mais, Michael, super bem-intencionado, tenta dar um empurrão na carreira de Lelaina, mas o tiro sai pela culatra. Ele não tem culpa, mas, mesmo assim, tenta consertar seu “erro” e humildemente pede desculpas! Promete que vai tentar de novo, só que agora tudo vai ser do jeito dela. Ela que manda. Oh! Que horror! Que vilão! É óbvio que ele não merece o perdão de Lelaina. Nunca que um monstro desse pode ficar com a mocinha no final. Honestamente, sem exageros, vocês sabem quais são os quesitos nos quais Troy supera Michael? Troy é mais articulado e tem mais referências culturais. Só.

Ironicamente, os dois únicos personagens interessantes do filme são os que têm menos tempo na tela. Janeane Garofalo tem a incrível capacidade de sempre subir o nível de um mau filme. Por mais banais que sejam, ela reveste todas as suas falas com inteligência e um humor fino, sarcástico. Steve Zahn, eu sou suspeito, porque sempre fui fã dele. Os conflitos pelos quais Vicky e Sammy passam chamam muito mais a atenção do que o lenga-lenga, o fica-não-fica dos protagonistas. Ela enfrenta o terror que é a suspeita de ser soropositiva, ele o pavor de não ser aceito pela mãe por ser homossexual. Vicky e Sammy definitivamente mereciam mais desenvolvimento, mas aí, o filme sairia da fórmula.

Sempre me pergunto o porquê de todo roteiro de comédia romântica estar necessariamente encaixado na mesma fórmula. Será que o estúdio não paga se não estiver? Só pode ser, porque não é maioria das romcoms, TODAS têm exatamente a mesma fórmula. É uma pena que “Caindo na Real” seja mais uma, pois trata de um assunto relativamente pouco explorado no cinema: as dificuldades de inserção no mercado depois da faculdade, especialmente se você faz questão de trabalhar na sua área. Nesse ponto, a película é válida, embora apenas toque na ponta do iceberg. Afinal, é preciso ter em mente que Helen Childress tinha apenas 19 anos quando finalizou seu roteiro. O diretor tinha 29. É um fato raro na história do cinema – um filme feito para jovens, escrito e dirigido por jovens. O que não me impede de pensar em como o filme seria melhor se Ben Stiller o dirigisse hoje, fora do circuitão dos grandes estúdios, já com seus 46 anos.

Menção: FR

Link no imdb.

7 comentários:

  1. di, se você for muito perfeccionista, troque lelaine por lelaina. caso contrário, toca o f-se.
    achei o michael um cara adorável também, ele é mais complexo e menos caricato que o troy. o comportamento infantil de desdém do troy, acabou com a premissa "you and me, five bucks and a good conversation" que é demais!
    você passa a noite num restaurante caro com alguém idiota: noite bunda. agora você sai com um bom conversador pra sentar no chão do posto de gasolina com uma coca: noite de reflexões memoráveis.
    queremos postooooooo queremos na nossa vida gente que reflete, que sofre, que canta, que cita alguém legal! e tem esse lance da total identificação minha com o universitário cheio de sonhos que não arruma emprego na área, por mil motivos. no final a gente se vira. e é mais engraçado sair por aí dançando 'my sharona' do que lady bla bla. e viva o grunge! mas se pensarmos melhor, ainda bem ele ficou para trás.

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  2. Long live the broke conversationalists!!

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  3. eu adorei o filme eu assistir ele na globo de madrugada ea te hoje quero assistir de novo mas nao consigo achar ele em canto nemhum

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  4. é impossivel de encontrar as legendas pra ele encontrei no the pirate bay, com o titulo original

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  5. Galera, a gente não passa informações sobre como baixar os filmes nem nada. O intuito do blog é exclusivamente de crítica e comentário de filmes.

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  6. Tá meio tarde meu comentário. Mas lá vai mesmo assim.

    A história é mesmo clichê das comédias românticas. Além disso, a estética se espelha na onda do momento da década de 90, "grunge", rock de garagem, "videotape". Até certo tempo, pensei em estar reassistindo a Single - vida de solteiro (1992) novamente. Mas, a despeito de todos os problemas que os clichês trazem, o conflito que torna Reality Bites (1994) super válido é a busca pela originalidade, pela vida autêntica, pelas conseqüências que isso implica, como a adequação do seu trabalho nos moldes do mercado e das convenções sociais, a necessidade de estar empregado, de se auto-sustentar, enfim. São problemas reais que permeiam a vida de todo jovem recém-formado; o que permanece nos dias de hoje.

    Diferentemente de Single (1992), por exemplo, esse conflito central que eu mencionei envolve o triângulo amoroso, Troy-Lalaina-Michael, de forma muito atraente, arrisco dizer. Particularmente, depois de baixar a poeira, me dei conta disso; os dois personagens, Troy e Lalaina, buscam por essa autenticidade - Troy, apesar de ser um FDP, um "troubled-mind", no fundo, se não deseja de início a autenticidade, ele a amadurece pela relação REAL que ele tem com Lalaina (e isso é fundamental na evolução da história); assim como Lalaina, que, como protagonista (acho que faz o papel da heroína), procura imprimir autenticidade no seu trabalho, já se decidiu sobre sua vocação e vive o conflito real da adequação de sua vocação em meio às hostilidades do ambiente, e portanto, tem um nível de maturidade muito maior. Michael diverge dessas duas personagens; apesar de ter qualidades notáveis, como a abnegação, certa habilidade, experiência para encarar questões de trabalho e vocação, além de ser humilde – é uma personagem que não tem a força daqueles dois, e comete o pior pecado nesse enredo: inautenticidade. Sua personalidade é fraca diante das hostilidades do ambiente, dobra-se facilmente e arrisca a vida autêntica de quem supostamente ama ao expô-la nesse meio. Um grande exemplo disso é o episódio do documentário que deixou nas mãos de terceiros, sem o menor cuidado ou supervisão com o processo de edição, pelo menos foi o que deixou transparecer. Me pergunto: por que Michael não observou com a atenção junto aos editores a produção do documentário? Por que não deixou ou ao menos tentou fazer com que Lalaina participasse direta ou indiretamente disso? Por que, diante de conversas aparentemente sinceras, Michael não foi capaz de perceber o que há de mais caro para Lalaina nessa situação em particular? A impressão que dá é que ele não tinha um contato realmente íntimo com Lalaina ao excluí-la desse processo; não tinha uma relação verdadeira, e olha que ainda há a cena emblemática do vestido com cara de toalha de mesa... Lembra-se?

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  7. O que separa Troy de Michael é algo importantíssimo no enredo desse romance clichê: a abertura da alma, sua capacidade de transformação. Enquanto Troy comporta-se como um imbecil a maior parte do tempo, ainda assim ele se debate por assimilar seu passado conturbado e seu futuro que é uma incógnita, tentando fugir de suas responsabilidades concretas, ao mesmo tempo em que vive a sua situação problemática, e principalmente, quando se coloca no embate com Lalaina, ferindo-a muitas vezes, porém, dado o seu percurso na história, vê-se que é uma personagem com uma alta capacidade de reabsorver as circunstâncias e de se transformar a partir disso, e portanto, capaz de redimir-se. Já Michael, embora comporte-se de maneira bastante tolerante e polida, a exemplo do acidente de carro provocado por Lalaina, da cena do vestido, também a sua notável capacidade de abnegação e sua sensibilidade, apesar disso, demonstra ter um horizonte de vida fechado a uma aparente submissão a enquadramentos sociais e à vontade de quem supostamente ama, o que leva a uma vida inautêntica e à fatal consequência de manter relacionamentos de maneira insincera e superficial – e isso é imperdoável nessa trama. Se a autenticidade, principalmente na vida vocacional, é uma questão caríssima para a protagonista Lalaina, como essa relação saudável poderia sustentar-se pela polidez exagerada que afasta das contradições verdadeiras da vida a dois? A relação entre Troy e Lalaina, por outro lado, é conflitiva porém sincera, verdadeira, tanto é que foi capaz de transformar as duas personagens – Troy, de desnaturado e covarde, em afável e corajoso; Lalaina, de orgulhosa e intolerante, em humilde e compreensiva. A este respeito há um detalhe interessante: a comunhão de gostos e preferências entre Lalaina e Michael se contrasta com certa divergência entre ela e Troy, o que nesta última relação parece ser bastante enriquecedor.

    Também um aspecto que chama muita atenção em Caindo na Real (1994) é o fato de, na contramão do gênero, quebrar com os critérios de categorização de personagens, tornando-os mais reais, fazendo entrever os defeitos e as qualidades a partir do que fazem no percurso da história.

    Enfim, uma comédia romântica que vale a pena de ser assistida, na minha avaliação.

    Grata pela oportunidade de comentar. Me perdoe pelo textão.
    A propósito, parabenizo o blog e o plano de fundo em especial, evoca toda aquela paixão por cinema daqueles tempos antigos.

    Abraço,

    Juliana

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