quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O ANJO EXTERMINADOR (EL ÁNGEL EXTERMINADOR)

Ano de Produção: 1962
Diretor: Luis Buñuel

Roteirista: Luis Buñuel


Atores Principais:

Silvia Pinal – Leticia, La Valkiria

Enrique Rambal – Edmundo

Claudio Brook – Julio

José Baviera – Leandro Gomez

Augusto Benedico – Carlos Conde, El Doctor

Antonio Bravo – Sergio

Jacqueline Andere – Alicia de Roc

César Del Campo – Álvaro

Rosa Elena Durgel – Silvia

Lucy Gallardo – Lucía de Nobile

Enrique García Alvarez – Alberto Roc


CONTÉM SPOILERS
Um dos clássicos mais queridos do grande diretor Luis Buñuel, “O Anjo Exterminador” é certamente o meu favorito dele. Depois de ter assistido a alguns de seus filmes mexicanos não muito bons – “Nazarin” e “A Ilusão viaja de Trem” – um ótimo – “Ensaio de um Crime” e um muito bom da sua fase francesa – “O Fantasma da Liberdade”, a película em questão não só me agradou intelectualmente, por ser um grande exercício surrealista de crítica social, como também me impactou no nível psicológico. Confesso que fiquei um pouco perturbado por algumas horas após a sessão.

Imaginei como o filme seria ainda mais sombrio se feito hoje, claro, pelo mesmo Buñuel, se estivesse vivo. O elemento de horror do filme é em grande parte apenas sugerido, provavelmente por conta de restrições técnicas e orçamentárias e, especialmente, pela censura conservadora da época. Já pensou se tivessem mostrado os homens abatendo os cordeirinhos e a reação das mulheres a essa visão de selvageria? E se eles tivessem ficado mais tempo ainda? Sem dúvida teriam recorrido ao canibalismo, como era o plano original de Buñuel. A atmosfera de loucura e desespero teria sido realmente intensificada, fazendo futuros filmes com tema semelhante – Apocalypse Now e Ensaio sobre a Cegueira, por exemplo – parecerem recatados em comparação. Talvez a platéia do início dos anos 60 não estivesse preparada. Eu não conseguiria dormir por uma semana.

Não me entendam mal, o filme como ele é merece entrar na história como um dos maiores, lógico. Estamos falando da época de ouro em que o realismo mágico e a semiótica estavam com tudo, tanto na literatura quanto no cinema. Um urso andando pela casa, cordeiros, uma galinha na bolsa de uma das personagens; são vários os exemplos do uso do simbólico. As portas dos cômodos onde o pessoal caga e mija são ilustrados por figuras sagradas; sinceramente não sei se são anjos ou santos – talvez sejam os anjos exterminadores, ou seja, guardiões de um lugar onde o ser humano se reduz ao mais baixo e animalesco, onde o homem rola na sujeira fétida. No entanto, um casal entra em um desses quartos e não saem mais, permanecem até a morte. Eles escolhem possivelmente a saída mais digna: preferem morrer se amando a se rebaixarem num bacanal de ofensas, intrigas, vinganças e traições, no qual se transforma aquela sala.

Aliás, a ausência de respostas claras às questões levantadas no decorrer do filme é uma de suas características mais marcantes. Inteligentemente, o diretor espanhol nunca esclarece a causa que impede os convidados de saírem da sala, ou tampouco o porquê de ninguém de fora conseguir entrar, mesmo com os portões abertos (que ironia fantástica!). E a mão, perseguindo a personagem em seu sonho? Essa passagem, aparentemente sem sentido nenhum, absolutamente surreal, acrescenta muito ao filme, pois amplia o elemento de estranho e consolida sua atmosfera macabra. O espectador fica em desconforto. Nesse sentido (e em muitos outros também), houve involução na maneira de se fazer cinema. Pode-se afirmar que quase não há filmes hollywoodianos abertos hoje em dia. Tudo tem que ter uma explicação verossímil, muitas vezes ridícula e desnecessária, principalmente quando se disfarça de ciência. Pô, eles explicaram até a origem de Godzilla, como se isso realmente pudesse acontecer. Absurdo. Até filmes que tinham muito potencial são arruinados quando vem a explicação. Lembram-se de “A Vila”?

Há de se ressaltar a excelência do desfecho. Perfeito. Não satisfeito com referência dos anjos gravados nas portas dos “banheiros” da sala, Buñuel põe os convidados e mais algumas dúzias de fiéis presos numa igreja. Não sei se Buñuel acreditava em Deus, mas, no filme, me parece que Ele quer testar a arrogância da elite burguesa a fim de mostrar-lhe o quão pouco civilizada ela pensa que é. É como se Buñuel quisesse nos dizer: “Mais humildade, por favor! Ainda somos mais feitos de Eros do que de Civilização!”

Menção: F

Link no imdb.

4 comentários:

  1. Vi apenas uma vez esse filme e realmente me causou um incômodo, uma agonia (e durante a sessão mesmo). Não pela falta de explicação, mas por eu não conseguir me engajar nessa tal crítica social que todos já me disseram. Adorei a ideia da impossibilidade de sair ou entrar naquela sala e tal, mas talvez tenha me faltado paciência para contextualizá-lo e entrar no ritmo...

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  2. Acho que você não deu muita bola para a crítica social, porque falar mal da burguesia é meio demodê hoje em dia. O que eu gostei mesmo foi o aspecto surrealista, delirante do filme. Não se faz mais filmes assim, infelizmente.

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