Ano de Produção: 1993
Diretor: Peter Weir
Roteirista: Rafael Yglesias
Atores Principais:
Jeff Bridges – Max Klein
Rosie Perez – Carla Rodrigo
Isabella Rossellini – Laura Klein
John Turturro – Dr. Bill Perlman
Tom Hulce – Brillstein
Benicio del Toro – Manny Rodrigo
Quando fiz a lista dos meus 100 filmes favoritos, percebi um número impressionante de filmes produzidos nos anos 90. Rapidamente entendi o porquê: a minha paixão pelo cinema começou na adolescência, mais especificamente em 92, 93, quando tinha 13, 14 anos. “Sem medo de viver” é um desses filmes do início da década que me marcou muito, mesmo estando esquecido nas prateleiras das locadoras em 2011.
Seu tema é dos mais fascinantes: Medo. O filme propõe o seguinte: o que aconteceria a um homem se ele perdesse todos os seus medos? Como um homem sem medo viveria? Max Klein começa o filme apavorado dentro de um avião que, por conta de uma falha hidráulica, precisa realizar um pouso forçado num milharal. A verdade é que a aeronave está caindo e as chances de sobrevivência são remotas. Durante a descida vertiginosa, enquanto todos os passageiros estão em pânico, Max tem uma visão. Ele literalmente vê uma luz no fim do túnel e vislumbra sua morte iminente e é a consciência de que está à beira do abismo que o permite se libertar de seus medos. Max experimenta uma sensação inédita – a serenidade absoluta, ou, por outro lado, a ausência de ansiedade. Após salvar alguns dos sobreviventes, os guiando para fora do avião em pedaços, prestes a explodir, Max pega um taxi para um hotel, como se nada tivesse acontecido. Toma banho e se depara com seu reflexo no espelho. Ele diz: “Não estou morto”. Na realidade, ele está pensando: “Sou invencível.”
Esse sentimento de invulnerabilidade torna-se uma verdadeira droga para Max. Ele está viciado em não sentir medo, em constante “natural high”, e isso muda completamente sua maneira de se relacionar com o mundo, tanto para melhor quanto para pior. Por um lado, Max percebe a Beleza da Vida com mais acuidade (como ele mesmo diz em certo momento do filme). Por outro, ele se distancia de sua família e amigos, pois sua empatia fica totalmente centrada em pessoas que estavam no avião, em especial uma mulher terrivelmente traumatizada. Carla perde seu filho neném porque não consegue segurá-lo em seu colo no momento do impacto. Ambos se conhecem e rapidamente criam um laço amoroso, fraternal. Carla tem em Max o seu anjo da guarda e Max aceita e abraça o seu novo papel, o que acarreta algumas conseqüências negativas para o seu casamento. Como ele está incapaz de sentir medo, Max não consegue mais mentir e acaba sendo cruel com sua família. Em uma cena cortante, ele diz a sua esposa: “Depois de ter conhecido Carla, eu sinto um sentimento gigantesco de amor por ela”.
Max percebe que viver sem medo é experimentar a morte. Em vários momentos, ele diz a Carla: “Nós somos fantasmas. Nada pode nos machucar. Nós vencemos a morte.” O ponto é: se o homem supera seu maior medo – o medo da morte – os outros medos são bobagem. Max está convencido de que morreu e Deus o esqueceu na Terra, ainda vivo. Deve ser realmente uma sensação extraordinária, a superação do destino mais inexorável, o fim. O que se faz depois do fim? A única coisa da qual Max tem certeza é o fato de que sua nova “vida” é maravilhosa e ele precisa compartilhá-la, seja como um anjo da guarda ou como herói, não importa. Uma cena fantástica acontece quando Max se senta ao lado de um garoto que viajava sozinho no avião. Enquanto o avião se despenca quase em queda livre, ele segura a mão do menino e o reconforta. Não me lembro de outra cena, em qualquer outro filme, que retratasse tão bem o quanto é bom ter alguém para te dar segurança nos momentos onde tudo parece estar perdido. Realmente, segurar a mão de alguém numa situação difícil e dizer que tudo vai dar certo é um ato de heroísmo.
No entanto, mais do que mostrar ao espectador que viver com o medo é nocivo e paralisante, a mensagem do filme acaba sendo exatamente o contrário: viver é sentir medo. O medo é humano. É essa opção final de Max. Ele finalmente percebe que só terá sua família de volta se ele voltar a viver, ou melhor, se ele voltar a sentir medo. O ideal torna-se abraçar o medo ao invés de tentar destruí-lo ou esperar que ele desapareça, porque ele é parte integrante e inseparável de nós mesmos. Se os seus medos desaparecem, você também desaparece, assim como aconteceu com o nosso herói. Nem a sua esposa o reconhecia mais.
Curiosidades do filme: 1) a única grande atuação de Rosie Perez, atriz novaiorquina, de descendência porto-riquenha, dona da voz mais esganiçada de todos os tempos; inclusive, é interessante o contraste de elegância numa cena entre ela e a estupenda Isabella Rossellini; 2) primeiro papel expressivo de Benicio Del Toro, ainda desconhecido na época e 3) a não ser em filmes de Woody Allen, poucas vezes vi um terapeuta – personagem de John Turturro – ser tão bem criticado e satirizado na história do cinema. Coitado, o cara chega a levar um tapa na cara. Com razão.
Menção: F
Link no imdb.
a premissa desse filme é demais! mas parece que podemos concluir que o medo é humano. me parece que quando ele não sentia mais nenhum medo, ficou um cara meio robótico...
ResponderExcluirInteressante isso, né Amorzão! Sem medo não seríamos humanos.
ResponderExcluirUma das mas bonitas e tão importantes mensagens que já vi num filme!!! Não consigo baixá-lo com legenda ou mesmo somente a legenda dele.
ResponderExcluir