segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SEM MEDO DE VIVER (FEARLESS)

Ano de Produção: 1993
Diretor: Peter Weir
Roteirista: Rafael Yglesias

Atores Principais:

Jeff Bridges – Max Klein
Rosie Perez – Carla Rodrigo
Isabella Rossellini – Laura Klein
John Turturro – Dr. Bill Perlman
Tom Hulce – Brillstein
Benicio del Toro – Manny Rodrigo

Quando fiz a lista dos meus 100 filmes favoritos, percebi um número impressionante de filmes produzidos nos anos 90. Rapidamente entendi o porquê: a minha paixão pelo cinema começou na adolescência, mais especificamente em 92, 93, quando tinha 13, 14 anos. “Sem medo de viver” é um desses filmes do início da década que me marcou muito, mesmo estando esquecido nas prateleiras das locadoras em 2011.

Seu tema é dos mais fascinantes: Medo. O filme propõe o seguinte: o que aconteceria a um homem se ele perdesse todos os seus medos? Como um homem sem medo viveria? Max Klein começa o filme apavorado dentro de um avião que, por conta de uma falha hidráulica, precisa realizar um pouso forçado num milharal. A verdade é que a aeronave está caindo e as chances de sobrevivência são remotas. Durante a descida vertiginosa, enquanto todos os passageiros estão em pânico, Max tem uma visão. Ele literalmente vê uma luz no fim do túnel e vislumbra sua morte iminente e é a consciência de que está à beira do abismo que o permite se libertar de seus medos. Max experimenta uma sensação inédita – a serenidade absoluta, ou, por outro lado, a ausência de ansiedade. Após salvar alguns dos sobreviventes, os guiando para fora do avião em pedaços, prestes a explodir, Max pega um taxi para um hotel, como se nada tivesse acontecido. Toma banho e se depara com seu reflexo no espelho. Ele diz: “Não estou morto”. Na realidade, ele está pensando: “Sou invencível.”

Esse sentimento de invulnerabilidade torna-se uma verdadeira droga para Max. Ele está viciado em não sentir medo, em constante “natural high”, e isso muda completamente sua maneira de se relacionar com o mundo, tanto para melhor quanto para pior. Por um lado, Max percebe a Beleza da Vida com mais acuidade (como ele mesmo diz em certo momento do filme). Por outro, ele se distancia de sua família e amigos, pois sua empatia fica totalmente centrada em pessoas que estavam no avião, em especial uma mulher terrivelmente traumatizada. Carla perde seu filho neném porque não consegue segurá-lo em seu colo no momento do impacto. Ambos se conhecem e rapidamente criam um laço amoroso, fraternal. Carla tem em Max o seu anjo da guarda e Max aceita e abraça o seu novo papel, o que acarreta algumas conseqüências negativas para o seu casamento. Como ele está incapaz de sentir medo, Max não consegue mais mentir e acaba sendo cruel com sua família. Em uma cena cortante, ele diz a sua esposa: “Depois de ter conhecido Carla, eu sinto um sentimento gigantesco de amor por ela”.

Max percebe que viver sem medo é experimentar a morte. Em vários momentos, ele diz a Carla: “Nós somos fantasmas. Nada pode nos machucar. Nós vencemos a morte.” O ponto é: se o homem supera seu maior medo – o medo da morte – os outros medos são bobagem. Max está convencido de que morreu e Deus o esqueceu na Terra, ainda vivo. Deve ser realmente uma sensação extraordinária, a superação do destino mais inexorável, o fim. O que se faz depois do fim? A única coisa da qual Max tem certeza é o fato de que sua nova “vida” é maravilhosa e ele precisa compartilhá-la, seja como um anjo da guarda ou como herói, não importa. Uma cena fantástica acontece quando Max se senta ao lado de um garoto que viajava sozinho no avião. Enquanto o avião se despenca quase em queda livre, ele segura a mão do menino e o reconforta. Não me lembro de outra cena, em qualquer outro filme, que retratasse tão bem o quanto é bom ter alguém para te dar segurança nos momentos onde tudo parece estar perdido. Realmente, segurar a mão de alguém numa situação difícil e dizer que tudo vai dar certo é um ato de heroísmo.

No entanto, mais do que mostrar ao espectador que viver com o medo é nocivo e paralisante, a mensagem do filme acaba sendo exatamente o contrário: viver é sentir medo. O medo é humano. É essa opção final de Max. Ele finalmente percebe que só terá sua família de volta se ele voltar a viver, ou melhor, se ele voltar a sentir medo. O ideal torna-se abraçar o medo ao invés de tentar destruí-lo ou esperar que ele desapareça, porque ele é parte integrante e inseparável de nós mesmos. Se os seus medos desaparecem, você também desaparece, assim como aconteceu com o nosso herói. Nem a sua esposa o reconhecia mais.

Curiosidades do filme: 1) a única grande atuação de Rosie Perez, atriz novaiorquina, de descendência porto-riquenha, dona da voz mais esganiçada de todos os tempos; inclusive, é interessante o contraste de elegância numa cena entre ela e a estupenda Isabella Rossellini; 2) primeiro papel expressivo de Benicio Del Toro, ainda desconhecido na época e 3) a não ser em filmes de Woody Allen, poucas vezes vi um terapeuta – personagem de John Turturro – ser tão bem criticado e satirizado na história do cinema. Coitado, o cara chega a levar um tapa na cara. Com razão.

Menção: F

Link no imdb.

3 comentários:

  1. a premissa desse filme é demais! mas parece que podemos concluir que o medo é humano. me parece que quando ele não sentia mais nenhum medo, ficou um cara meio robótico...

    ResponderExcluir
  2. Interessante isso, né Amorzão! Sem medo não seríamos humanos.

    ResponderExcluir
  3. Bruno Almeida de Oliveira15 de outubro de 2011 às 15:22

    Uma das mas bonitas e tão importantes mensagens que já vi num filme!!! Não consigo baixá-lo com legenda ou mesmo somente a legenda dele.

    ResponderExcluir