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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

SUPERMAN

Ano de Produção: 1978
Diretor: Richard Donner
Roteiristas: Mario Puzo, Leslie Newman, David Newman e Robert Benton

Atores Principais:

Christopher Reeve – Clark Kent/Superman
Margot Kidder – Lois Lane
Gene Hackman – Lex Luthor
Marlon Brando – Jor-El
Ned Beatty – Otis
Jackie Cooper – Perry White
Valerie Perrine – Eve Teschmacher
Glenn Ford – Jonathan Kent
Phyllis Thaxter – Ma Kent
Jeff East – Young Clark Kent
Marc McClure – Jimmy Olsen
Terence Stamp – General Zod
Sarah Douglas – Ursa
Jack O’Halloran - Non

“Superman” é o filme mais marcante da minha infância. Não importa quantas vezes passasse na televisão, eu estava lá para conferir de novo, e de novo, e de novo, com a mesma empolgação da primeira vez que o assisti. A película busca construir o mito do bem absoluto, do completo altruísmo e da mais pura inocência, personificado na figura alienígena do Super-Homem. Estamos diante do retrato de uma verdadeira teogonia.

A introdução se enquadra perfeitamente na definição do “espetacular”. O filme começa mostrando o ocaso do planeta Krypton, previsto por Jor-El (Brando), pai do Homem de Aço, e o subseqüente envio de Kal-El, ainda bêbê, à Terra. Tendo em vista que “Superman” foi realizado em 1978, há de se admirar o desenho de produção de Krypton. Todo branco, girando em torno de um sol vermelho como um gigante cristal, opaco e sólido, o planeta natal do Super-Homem é uma obra de arte em termos de cenário. E tem Marlon Brando. Mesmo lendo suas falas na fralda de seu “filho”, o ator complementa o cenário com sua presença régia e termina por prover a aura mitológica necessária ao registro do nascimento de um deus.

Quando aterrissa na Terra, após atravessar anos-luz de espaço sideral, o garoto Kal-El é acolhido pelos Kents, os quais assumem o papel de seus pais. Com dezoito anos e em luto pela perda de seu pai terráqueo, Clark Kent parte em direção ao pólo norte, atendendo a um chamado silencioso de um misterioso cristal verde que encontra enterrado no celeiro. Chegando a seu destino, Kent lança o cristal a milhas de distância no gelo e, assim, surge a Fortaleza da Solidão, sua casa Kryptoniana aqui na Terra. Lá, através de cristais, que funcionam como um grande banco de dados, ele tem a oportunidade de conversar com seu verdadeiro pai pela primeira vez. A partir daí, Clark Kent passa anos recebendo o restante de seu aprendizado para, então, após finalizado o seu último rito de passagem, ele sair de lá voando já adulto, completo, pronto para ser Super-Homem. É interessante notar que não fica muito claro como Superman conseguiu incorporar o bem absolutamente e rejeitar o mal em todas as suas formas e representações. Afinal, ele foi criado aqui na Terra, rodeado de humanos. A única conclusão é a de que sua natureza alienígena falou mais alto que o ambiente ao seu redor, especialmente depois de sua educação final na Fortaleza da Solidão. O Super-Homem não é um herói identificável, falho, vulnerável, como os deuses da mitologia grega. Ele está muito mais próximo da concepção atual de Deus – onipotente (força, velocidade e invulnerabilidade) e onisciente (visão raio-x e super-audição). Ele é na verdade uma figura de inspiração, um símbolo da bondade e da incorruptibilidade.

Características opostas às de seu arquirrival, Lex Luthor. O cara é feio, egocêntrico, cruel, megalomaníaco, mas, apesar de planejar a morte milhões de inocentes, não é um doente psicopata como o Coringa, por exemplo. Lex está longe de ser o anticristo. Ele é só uma caricatura humorística do mal. Suas cenas são sempre engraçadas, muito por conta de seus sidekicks, Otis e Srta. Teschmacher, os quais servem unicamente como alívio cômico. No entanto, é preciso dar mérito ao vilão, pois colocou o Super numa situação onde não era possível salvar Lois Lane. Depois de salvar New Jersey bloqueando uma represa, Super-Homem chega atrasado na Califórnia e encontra Lois morta, soterrada pelo deslizamento provocado por um míssil nuclear, cuja rota de colisão havia sido alterada por Luthor. Agindo literalmente como Deus, Superman faz a Terra girar ao contrário e volta o tempo a fim de poder salvar a mulher que ama. Até hoje, eu sou contrário a essa idéia, que quase estraga o filme. Mesmo sendo um filme de quadrinhos, fazer a Terra girar ao contrário voando em alta velocidade em sua órbita é absurdo, inverossímil e desnecessário. Se o Homem de Aço consegue voar próximo à velocidade da luz, como é que não dá tempo de parar os dois mísseis?

As demais cenas de ação, nas quais o herói utiliza seus poderes, já são suficientes para entreter e maravilhar o espectador. Super-Homem se coloca sobre trilhos rompidos para evitar que um trem venha a descarrilhar; perfura a crosta terrestre e acomoda placas tectônicas a fim de parar um terremoto; salva um bando de crianças num ônibus escolar na Golden Gate prestes a desabar; sustenta um avião sem uma de suas turbinas até o pouso seguro e, claro, há a cena clássica da primeira vez em que o Super entra em ação. Um helicóptero – Lois Lane é um de seus passageiros – perde o controle e fica pendurado no terraço de um arranha-céu. Lois Lane não consegue se segurar no cinto de segurança e entra em queda livre. Clark Kent está saindo do Planeta Diário, tranqüilo e contente. Demora comicamente a notar que sua donzela está em perigo. Quando ele a vê caindo, corre em direção a um lugar escondido, já abrindo a camisa e mostrando o S no peito, e voa em público pela primeira vez, para delírio da galera. Com Lois Lane em um de seus braços e o helicóptero em outro, Superman salva o dia e vira manchete instantaneamente.

É preciso ressaltar que todas essas cenas são incrivelmente bem feitas, especialmente porque foram filmadas há mais de trinta anos. Tenho certeza de que um espectador que assiste o filme pela primeira vez em 2011 ainda é capaz de curtir “Superman”, desde que seja dotado de uma mínima capacidade de relativizar a película em seu contexto na História do Cinema. Além disso, o impacto do filme é incrivelmente ampliado pela inesquecível trilha sonora de John Williams, talvez o seu melhor trabalho. A música se combina perfeitamente ao tema, pois realmente possui em essência uma característica épica, mitológica.

Como curiosidade, Nick Nolte estava cotado para ser o Homem de Aço, mas disse que só aceitaria o papel se Clark Kent/Super-Homem fosse escrito como um personagem literalmente esquizofrênico. E não é que eu concordo com Nick! Clark e Super são tão diferentes que poderiam ser as duas facetas de uma síndrome de dupla personalidade. Como Bill bem disse em “Kill Bill Volume 2”, Clark Kent é um alter ego criado pela imaginação do Super-Homem. “Super-Homem” é quem ele realmente é. Kent representa a perspectiva que o Super-Homem tem do Homem: fraco, desastrado, inseguro. É através dessa identidade artificialmente construída que Super-Homem se relaciona com a humanidade. Quem tem amigos e família é Clark Kent. É ele que se apaixona por Lois Lane. Superman não tem amigos ou namorada. Seus pais já morreram há muito tempo. Ele é uma divindade alienígena, invulnerável e distante do turbilhão de emoções humanas, as quais só a Clark é permitido experimentar. Christopher Reeve fez um trabalho sensacional com Clark Kent, a faceta humana do Super-Homem. Atrevo-me a dizer que é até possível acreditar que as pessoas no filme não percebem que Clark é o Superman de óculos. Reeve muda a voz, postura, corte de cabelo, o jeito de olhar, infantil e ingênuo, ou seja, tudo que o possibilita a criar empatia com os humanos.

Sua perda foi uma verdadeira lástima para todos nós que crescemos assistindo a todos os capítulos da tetralogia Superman várias e várias vezes. E olha que o III e IV são uma bosta total. Apenas a sua presença já valia o ingresso.

Menção: F

Link no imdb.